Santos
Santos João Fisher, bispo, e Tomás Moro, mártires
Nota Histórica
João Fisher nasceu no ano 1469. Estudou em Cambridge, na Inglaterra, e foi ordenado presbítero. Mais tarde, foi nomeado bispo de Rochester, cargo que exerceu com uma vida de grande austeridade e intenso zelo apostólico, visitando com frequência os seus fiéis. Escreveu também diversas obras contra os erros do seu tempo. Tomás Moro nasceu no ano 1477 e completou os seus estudos em Oxford, na Inglaterra. Contraiu matrimónio e teve um filho e três filhas. Ocupou o cargo de chanceler do reino. Escreveu várias obras sobre a arte de governar e em defesa da religião. Ambos foram encarcerados na Torre de Londres, por ordem do rei Henrique VIII, por se terem recusado a ceder na controvérsia sobre o matrimónio real e sobre o primado do Romano Pontífice. Foram decapitados no ano 1535: João Fisher no dia 22 de junho e Tomás Moro no dia 7 de julho. Ambos os martírios deram testemunho da indissolubilidade do matrimónio e da unidade da Igreja.
Missa
Comum dos mártires: para vários mártires.
Oração coleta
Senhor nosso Deus,
que fizestes do glorioso testemunho dos mártires
a mais perfeita expressão da fé,
concedei-nos, por intercessão dos santos João e Tomás,
a graça de confirmar, com o testemunho da vida,
a fé que professamos com as palavras.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos.
Liturgia das Horas
De uma carta de São Tomás Moro,
escrita no cárcere a sua filha Margarida
(The English Works of Sir Thomas More, London, 1557, p.1454)
(Sec. XVI)
Ponho-me inteiramente nas mãos de Deus com toda a esperança e confiança
Embora eu tenha plena consciência, minha Margarida, de que os pecados da minha vida passada mereceram justamente que Deus me abandone, nunca deixarei de confiar na sua imensa bondade e de esperar com toda a minha alma. Até agora a sua santíssima graça deu-me forças para tudo desprezar do íntimo do coração – riquezas, rendimentos e a própria vida – antes que prestar juramento contra a voz da minha consciência. Foi Deus que, benignamente, levou o rei a privar-me até ao presente, só da liberdade. Com isto, em vez de me fazer mal, sua Majestade concedeu-me para proveito espiritual da minha alma, assim o espero, um benefício maior do que com todas aquelas honras e bens que antes me dispensava. E espero confiadamente que a mesma graça divina há-de continuar a favorecer-me, ou acalmando o ânimo do rei para que não me imponha tormento mais grave, ou dando-me a força necessária para suportar tudo, seja o que for, com paciência, fortaleza e boa vontade.
O meu sofrimento, unido aos méritos da dolorosíssima paixão do Senhor – infinitamente acima de tudo quanto eu venha a padecer – aliviará as penas que mereço no Purgatório e, graças à bondade divina, acrescentará também um pouco a minha recompensa no Céu.
Não quero desconfiar, minha Margarida, da bondade de Deus, por mais débil e fraco que eu me sinta. Mais ainda: se, no meio do terror e da consternação, eu me visse em perigo de ceder, lembrar-me-ia então de São Pedro, que, à primeira rajada de vento, começou a afundar-se, por causa da sua pouca fé, e procuraria fazer o que ele fez: gritar a Cristo: Salvai-me, Senhor. Espero que Ele estenderá a sua mão para me segurar e não me deixará afogar.
Mas se Deus permitisse que a minha semelhança com Pedro fosse mais longe, a ponto de eu me precipitar e cair totalmente, jurando e abjurando (que Deus, por sua misericórdia, afaste para bem longe de mim tal calamidade e que dessa queda me venha antes castigo do que benefício), ainda em tal caso, espero que o Senhor me dirigiria, tal como a Pedro, um olhar cheio de misericórdia e me levantaria de novo para eu voltar a defender a verdade, para descarregar a consciência e suportar corajosamente o castigo e a vergonha da minha anterior negação.
Finalmente, minha Margarida, estou inteiramente convencido de que, sem culpa minha, Deus não me abandonará. Por isso com toda a esperança e confiança me entregarei totalmente nas mãos de Deus. Se, por causa dos meus pecados, Deus permitisse a minha queda, ao menos brilharia em mim a sua justiça. Espero, porém, e espero com inteira certeza, que a sua clementíssima bondade guardará fielmente a minha alma e fará que em mim brilhe mais a sua misericórdia do que a sua justiça.
Está, pois, tranquila, minha filha, e não te preocupes comigo, seja o que for que me aconteça neste mundo. Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça é, em verdade, muito bom.