Santos

São Bernardo, abade e doutor da Igreja

 

Nota Histórica

Memória

Bernardo nasceu no ano 1090, perto de Dijon, na França. Admitido, no ano 1111, entre os monges cistercienses, foi eleito, pouco tempo depois, Fundador e primeiro abade do mosteiro de Claraval. Com a sua atividade e exemplo exerceu uma notável influência na formação espiritual dos seus irmãos religiosos. Percorreu a Europa para restabelecer a paz e a unidade e ilustrou toda a Igreja com os seus escritos e as suas ardentes exortações. Escreveu muitas obras de Teologia e Ascética. Inspirou um devoto afeto à humanidade de Cristo e à Virgem Mãe. Adormeceu no Senhor no território de Langres, na França, no ano 1153.

 

Missa

Antífona de entrada
O Senhor deu a são Bernardo o espírito de sabedoria
e ele abriu para o povo de Deus os mananciais da doutrina celeste.

Oração coleta
Senhor nosso Deus, que fizestes de são Bernardo, abade,
inflamado no zelo da vossa casa,
uma luz que na vossa Igreja arde e ilumina,
concedei-nos, por sua intercessão,
o mesmo fervor de espírito,
para vivermos sempre como filhos da luz.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos.


LEITURAS Da féria (ou do Comum)


Oração sobre as oblatas
Nós Vos oferecemos, Senhor,
o sacramento da unidade e da paz,
ao celebrarmos a memória do abade são Bernardo,
que, ilustre em palavras e obras,
trabalhou incansavelmente pela concórdia na vossa Igreja.
Por Cristo nosso Senhor.

Antífona da comunhão Jo 15, 9
Assim como o Pai Me amou, diz o Senhor, também Eu vos amei.
Permanecei no meu amor.

Oração depois da comunhão
O alimento celeste que recebemos, Senhor,
na celebração de são Bernardo,
produza em nós o seu fruto,
para que, instruídos com a sua doutrina
e confortados com o seu exemplo,
sejamos arrebatados pelo amor do Verbo Encarnado.
Ele que vive e reina pelos séculos dos séculos.

 

Liturgia das Horas

Dos Sermões de São Bernardo, abade,
sobre o Cântico dos Cânticos

(Sermão 83, 4-6: Opera Omnia, ed, Cisterc. 2 [l958], 300-302)
(Sec. XII)

Amo porque amo, amo para amar

O amor subsiste por si mesmo, agrada por si mesmo e por causa de si mesmo. Ele próprio é para si mesmo o mérito e o prémio. O amor não busca outro motivo nem outro fruto fora de si; o seu fruto consiste na sua prática. Amo porque amo; amo para amar. Grande coisa é o amor, desde que remonte ao seu princípio, que volte à sua origem, que torne para a sua fonte, que se alimente sempre da nascente donde possa brotar incessantemente. Entre todas as moções, sentimentos e afectos da alma, o amor é o único em que a criatura pode corresponder ao Criador, se não em igual medida, ao menos de modo semelhante. Com efeito, Deus, quando ama, não quer outra coisa senão ser amado: isto é, não ama por outro motivo senão para ser amado, sabendo que o próprio amor torna felizes os que se amam entre si.
O amor do Esposo, ou antes o Amor Esposo, não pede senão correspondência e fidelidade. A amada deve, portanto, retribuir com amor. Como pode a esposa não amar, sobretudo se é a esposa do Amor? Como pode o Amor não ser amado?
Com razão renuncia a qualquer outro afecto e se entrega total e exclusivamente ao Amor a alma consciente de que o modo de corresponder ao amor é retribuir com amor. Na verdade, mesmo quando toda ela se transforma em amor, que é isso em comparação com a torrente perene que brota daquela fonte? Evidentemente, não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, da criatura e do Criador; há entre eles a mesma diferença que entre a fonte e quem dela bebe.
Sendo assim, ficará sem qualquer valor e eficácia o desejo da noiva, o anseio de quem suspira, a paixão de quem ama, a esperança de quem confia, porque não pode acompanhar a corrida do gigante, igualar a doçura do mel, a mansidão do cordeiro, a beleza do lírio, o esplendor do sol, a caridade d’Aquele que é a caridade? Não. Porque embora a criatura ame menos, porque é menor, se todavia ela ama com todo o seu ser, nada fica por acrescentar. Nada falta onde está tudo. Por isso, este amor total equivale ao desposório, porque é impossível amar assim sem ser amado, e neste mútuo consentimento de amor consiste o autêntico e perfeito matrimónio. Quem pode duvidar de que a alma é amada pelo Verbo, antes dela e mais intensamente?