Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Unção

 

Do latim, ungere, unctio (un¬gir). A unção com azeite e seus derivados, sobretudo perfumados, como o bálsamo ou o crisma, é uma acção simbólica que se emprega com frequência na liturgia cristã.
As qualidades práticas e o simbolismo espontâneo à volta do azeite e a unção fora aproveitados para exprimir a salvação que Deus nos comunica por Cristo e seu Espírito. «A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o óleo é sinal de abundância e de alegria; purifica (unção antes e depois do banho) e torna ágil (a unção dos atletas e lutadores); é sinal de cura, pois suaviza as contusões e as feridas; e torna radiante de beleza, saúde e força» (CIC 1293).
Por isso, no AT se empregava a unção para exprimir a força que Deus comunicava às pessoas que começavam uma missão para o seu povo: os reis (no caso de David, cf. 1Sm 16,13), os sacerdotes (cf. Ex 29,4ss para Aarão) e os profetas (cf. 1Rs 19,16 para Eliseu).
Mas o autêntico Ungido é Jesus de Nazaré. O nome dele, que mais se repete, é o de «Cristo», que, em grego, significa «Ungido», o mesmo que «Messias», em hebraico. Ele é que recebeu a missão mais difícil, a de Messias e, por isso, recebe a Unção do Alto, que é o Espírito de Deus: «Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré» (Act 10,38).
Depois, os crentes em Cristo recebem também a unção do Espírito: «Quem nos confirma em Cristo – a nós e a vós – é Deus. Foi Ele que nos concedeu a unção, nos marcou com o seu sinal e imprimiu em nossos corações o penhor do Espírito» (2Cor 1,21). Por isso, se Jesus é chamado Ungido, Cris¬to, os seus seguidores são chamados também ungidos, cristãos.
Na nossa Liturgia são várias as circunstâncias em que, com a unção, se visa expressar a graça da salvação:
• com o óleo dos catecúmenos, faz--se a primeira unção do Baptismo, sobre o peito, antes do sinal central do banho na água;
• com o crisma realizam-se as unções da Confirmação (na fronte) e a das Ordenações (nas mãos, ao presbítero e, na cabeça, ao bispo), e também a segunda (pós-baptismal) do Baptismo, sobre a cabeça do baptizado;
• na Unção dos Enfermos, esta acção simbólica, como na Confirmação, é precisamente o gesto sacramental central que, além do mais, neste caso, dá nome ao próprio sacramento; nos outros dois sacramentos (Baptismo e Ordenação) o gesto não é central, mas complementar;
• também no rito da Dedicação, se ungem com o crisma o altar e as paredes da igreja, como sinal de que ficam consagrados para sempre ao culto cristão, recebendo a sua eficácia do Ungido por excelência, Jesus Cristo.
Em cada uma das unções, o simbolismo do gesto tem matizes diferentes:
• na unção pré-baptismal, no peito, exprime-se a fortaleza que Cristo quer comunicar ao catecúmeno: no caso de adultos, pode-se repetir este gesto simbólico, durante o período do catecumenado (cf. RICA 128; EDREL 1465-1466);
• na crismação pós-baptismal, sobre a cabeça, significa-se a consagração e a entrada no povo de Cristo, sacerdote, profeta e rei;
• na Confirmação, a crismação faz--se na fronte, para expressar o selo e a marca do Espírito de Cristo, para que sejam testemunhas dele no meio do mundo;
• na Unção dos Enfermos faz-se sobre a fronte e nas mãos, para expressar a graça e a ajuda de Deus no momento da debilidade e da doença;
• nas Ordenações consagram-se as mãos do presbítero, que actuará em nome de Cristo para bem do seu povo, e sobre a cabeça do bispo, para significar a graça que o configura com Cristo--Cabeça da comunidade.
Todos estes momentos têm um ponto de referência na Missa Crismal, que o bispo preside em vésperas da Páscoa; todos os sacramentos brotam da Páscoa e, por isso, se benzem e consagram os óleos e o crisma que em todas as paróquias de uma diocese vão servir para a celebração dos sacramentos.

--> Crisma. Óleos.