Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Santos

 

O culto aos Santos começou sobretudo com a recordação dos mártires, a partir já do proto-mártir Estêvão (cf. Act 8,2). É natural que uma comunidade recorde os seus defuntos e, de modo especial, os mais distintos.
Dos mártires conservou-se o túmulo, ou as suas relíquias, assim como as Actas e Paixões do seu martírio. Há documentos do século II que atestam já o culto aos mártires, sobretudo no lugar da sua morte, mas também noutras regiões, se eram muito conhecidos. A seguir, a pouco e pouco, surgiu o costume da veneração dos lugares onde viveram ou por onde passaram, e também os seus aniversários, mesmo não sendo mártires: bispos importantes, doutores da Igreja, santas virgens, monjes, etc. E do culto local passou-se, em alguns casos, ao universal, pela importância da pessoa ou das suas obras. O apreço das relíquias, as peregrinações aos seus túmulos e a leitura crescente das «vidas de santos» exprimiram e, ao mesmo tempo, alimentaram a devoção que o povo cristão sempre teve aos seus santos, como pessoas que estiveram mais próximas do Mestre e Modelo, Jesus Cristo. A muitos deles a Igreja «canonizou-os», ou seja, colocou-os no cânone, na lista dos bem-aventurados, declarando com este acto oficial que estas pessoas já gozam da glória de Deus e propondo--as como modelos de vida evangélica ao povo cristão.
O Concílio, no capítulo que a Lumen gentium dedica ao «Carácter escatológico da Igreja peregrina e a sua união com a Igreja celeste», recomendou o culto aos santos (cf. LG 49-51). Mas já antes, no documento sobre a Liturgia, se explicava este culto e se estabeleciam as normas sobre a sua celebração litúrgica: «Neste *ciclo anual da celebração dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com amor especial a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus […] A Igreja introduziu também no ciclo do ano a memória dos Mártires e de outros Santos, os quais, tendo atingido a perfeição pela multiforme graça de Deus e tendo já alcançado a salvação eterna, no céu cantam o perfeito louvor a Deus e intercedem por nós. Ao celebrar os dias natalícios [isto é, da morte] dos Santos, ela proclama o Mistério Pascal realizado neles, que sofreram e foram glorificados com Cristo, propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem todos por Cristo ao Pai, e pelos seus méritos implora os benefícios de Deus» (SC 103-104).
Honrar os santos significa, antes de mais, honrar a Deus Pai, o todo Santo. As pessoas podem ser chamadas «santas», embora tenham tido as suas debilidades, enquanto souberam imitar a santidade de Deus, segundo o antigo mandato: «Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou Santo» (Lv 19,2), repetido no NT: «à Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos» (1Cor 1,2). A fórmula da canonização começa com estas palavras: «A glória da Santíssima Trindade»…
Em segundo lugar, os santos são o melhor fruto da Páscoa de Jesus Cristo, o «Santo de Deus»: ouviram a sua palavra e puseram-na em prática, assimilaram as suas bem-aventuranças e o seu estilo de vida. Honrar os santos é celebrar o êxito de Cristo, porque são como seus sinais viventes neste mundo: «todo o amor autêntico que manifestamos aos bem-aventurados, dirige-se, por sua própria natureza, a Cristo e termina nele, “coroa de todos os santos”» (LG 50); «as festas dos santos proclamam as maravilhas de Cristo nos seus servos» (SC 111); ao celebrar o trânsito dos Santos, proclamamos o Mistério Pascal cumprido neles (cf. SC 104).
Os santos são também um dom do Espírito à sua Igreja. O Espírito chamado por antonomásia «Santo», continua a animar a comunidade cristã, enchendo-a dos seus carismas. Umas vezes é o Espírito da Verdade e da Sabedoria quem suscita homens e mulheres cheios de saber; outras, o Espírito de Amor, que os move a dedicar-se aos pobres e doentes ou à educação; ou o Espírito da Fortaleza, que lhes dá força no testemunho do martírio. Os santos são frutos da presença animadora do Espírito à humanidade.
Finalmente, os Santos são também a glória e o modelo da comunidade eclesial. A sua existência, próxima ou afastada no tempo e na geografia, honra toda a comunidade. Mostram-lhe que é possível viver o Evangelho de Cristo. São uma nota de esperança e um estímulo para toda a Igreja (cf. LG 50). E, além disso, desde a sua existência no Céu, não cessam de interceder por nós diante do Pai, e a sua fraterna solicitude contribui muito para remediar a nossa debilidade (cf. LG 49).
Em 1 de Novembro celebramos a Festa de Todos os Santos, dos canonizados e dos não canonizados: de todos os cristãos que gozam de Deus, depois de terem seguido Cristo durante a sua vida.
A origem desta festa parece que se deve situar no século VII, quando o Pan¬teão romano, um templo dedicado a «todos os deuses» (significado do termo grego), foi dedicado à Virgem Maria e a todos os Santos. O aniversário desta dedicação foi fixado, no século IX, no dia 1 de Novembro.

--> Ladainhas. Maria. Martirológio. Relíquias. Santoral.