Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

asperges, aspersão

 

A Eu¬¬caristia dos domingos, sobretudo durante a Cinquentena Pascal, recomenda-se que comece, não com o acto penitencial normal, mas com a aspersão, em recordação do Baptismo.
Pedindo a Deus que renove em nós a graça com que nos encheu no dia da nossa primeira incorporação em Cristo e na sua Igreja, o sacerdote asperge-se primeiro a si mesmo, a seguir aos seus ministros mais próximos, e, depois, enquanto se entoa um cântico baptismal, deslocando-se pela igreja, asperge toda a comunidade reunida.
Constitui um gesto litúrgico que, desde há séculos, enquanto se cantava o «Asperges» ou o «Vidi Aquam», já se fazia no começo das missas solenes. Agora, porém, convida-se a fazê-lo com maior expressividade em todas as missas dominicais, seguindo um dos três formulários que o Missal oferece em apêndice.
A palavra «asperges» vem do latim, «ad-spargere» (espalhar um líquido como sinal de purificação). Em concreto, faz-se referência ao v. 9 do Salmo 51[50], o «Miserere»: «asperges me hyssopo et mundabor», «aspergi-me com o hissope e ficarei puro». Aspergir é espalhar, borrifar uma pessoa ou uma coisa ou um lugar, «espalhando» água sobre eles. Também se pode aspergir com sangue: cf. o gesto simbólico de Ex 24,8, quando Moisés asperge com o sangue o altar e o povo, para selar a Aliança entre Javé e Israel (cf. Heb 9,19-22; 12,24); ou também com cinza: em Lm 2,10 os anciãos «lançam cinza sobre as suas cabeças».
Aspergir com água pode significar a purificação (cf. Heb 10,22) ou a protecção contra o mal, à maneira de bênção e exorcismo. Na liturgia aspergem-se o altar, as paredes e os espaços da igreja, na sua dedicação («o bispo asperge o povo, que é o templo espiritual, e asperge também as paredes da igreja e o altar»: Ritual da Dedicação, 11), e também as diversas coisas ou lugares que se querem benzer, como edifícios, cemitérios, sinos, ramos, campos, etc. («para que recordem o Mistério Pascal e renovem a fé do seu baptismo»: Cerimonial das Bênçãos 26d), e de um modo saudoso, nas exéquias, o féretro do defunto cristão, recordando também a sua condição de baptizado.
Mas, sobretudo, na Vigília Pascal, e depois, como dissemos, no começo da Eucaristia dominical, asperge-se o povo cristão, recordando que somos povo de baptizados e, por isso, somos convocados para a Eucaristia: «por meio desta água renovai em nós a fonte viva da vossa graça… reavivai em nós a recordação e a graça do Baptismo, nossa primeira Páscoa.» Ao entrarmos na igreja, também invocamos a bênção de Deus para as ocupações correntes da vida de cada um, benzendo-nos com água benta, mas assume maior expressividade quando essa bênção é recebida comunitariamente.

--> Água. Baptismo.