Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

arras

 

Na cultura romana, as arras (do latim, arrhæ, e, do grego, arrabón) significavam as prendas (penhor, abonação) que se faziam nos esponsais, como antecipação e garantia da futura união matrimonial. Na liturgia hispânica antiga, também nos esponsais, tinha lugar o Ordo arrarum.
S. Paulo fala de que Cristo «nos mar¬cou com o seu sinal e imprimiu em nossos corações o penhor do Espírito (dedit arrabonem Spiritus)» (2Cor 1,22) ou que «Deus, que nos deu o penhor do Espírito (arrabonem Spiritus)» (2Cor 5,5). No latim também se usa o termo «pignus» (garantia, prenda). É equivalente a dizer que «possuímos as primícias do Espírito» (Rm 8,23), ou que «fostes marcados pelo Espírito Santo. E o Espírito Santo pro¬metido é o penhor da nossa herança (arrabon hereditatis nostræ)» (Ef 1,13-14).
As arras entenderam-se como a garantia, a «fiança» ou «santo e senha» que envolvia um contrato ou uma -aliança. No caso do matrimónio, sobretudo, arras é o que o marido pagava à família da mulher (enquanto esta trazia o seu «dote»). Concretizou-se tradicionalmente em treze moedas, como símbolo de que o marido se comprometia a manter a nova família.
Como curiosidade, adianta-se que, no Ritual do Matrimónio castelhano, ainda se mantém este costume das arras, mas com uma mudança significativa, na sua última edição renovada de 1996, cujo n. 37 justifica: «inclui-se o rito da bênção e entrega das arras, de grande enraizamento na tradição de muitas dioceses em Espanha, que serve para exprimir a comunidade de vida e de bens que se estabelece entre os esposos. Para que este significado apareça com maior clareza, o rito foi enriquecido com a entrega, também por parte da es¬po¬sa, de arras ao seu marido (antes era só o esposo que as entregava)». Os esposos realizam a entrega, proferindo as seguintes palavras: «recebe estas arras como prenda da bênção de Deus e sinal dos bens que vamos partilhar».

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