Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Oração Universal (ou dos Fiéis)

 

A Oração Universal, na actual estrutura da Eucaristia romana, conclui a Liturgia da Palavra. Depois de Deus ter dirigido a sua Palavra ao povo cristão, e este a ter acolhido, a comunidade presente ora para que a salvação que as leituras anunciaram se torne eficaz e se cumpra na nossa geração, na Igreja e na humanidade inteira.
Seguramente, foi sob a influência da liturgia judaica, que continha também orações de intercessão em forma litânica, que, desde cedo, apareceram, na história da Eucaristia, alusões concretas a esta oração pela humanidade. Paulo, em 1Tm 2, recomendava que a comunidade orasse «por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades». Justino, no ano 150, afirma: «fazemos as orações comuns por nós mesmos, pelo que foi iluminado (baptizado) e por todos os outros que há em todas as partes» (Apologia I,65).
Temos poucas notícias seguras sobre a forma como evoluiu esta oração, ao longo dos séculos, e, por que razão, a partir do século V, com a introdução da «deprecatio Gelasii» no começo da missa, desaparece a Oração Universal, à excepção das «orações solenes» de Sexta-Feira Santa, que chegaram até aos nossos dias. Não se sabe com segurança, se o Kyrie, no princípio da Missa, é fruto da «trasladação» para esse momento da litania de oração, ou se são independentes.
Na Liturgia Hispânica, este é um dos momentos mais característicos: a oração litânica chamada dos «dípticos» pela Igreja, pela hierarquia em comunhão com os Santos e a recordação dos defuntos, assim como a oração «post nomina», depois de ter nomeado os oferentes da Missa.
O nome de «Oração dos Fiéis» faz referência ao tempo em que se fazia a despedida dos catecúmenos, neste momento da celebração, depois da homilia, e ficavam só os «fiéis» para a Eucaristia, começando precisamente a sua acção com esta oração. Agora, cha¬ma-se «Oração Comum» ou «dos Fiéis» (SC 53), ou melhor, «Oração Universal» ou «Oração dos Fiéis» (IGMR 69). O Concílio recomendou que se restabelecesse esta oração, «para que, com a participação do povo, se façam preces pela santa Igreja, pelos que nos governam, por aqueles que estão abatidos por várias necessidades, por todos os homens e pela salvação de todo o mundo» (SC 53).
A motivação teológica é clara: «Na Oração Universal ou Oração dos Fiéis, o povo responde, de algum modo à Palavra de Deus recebida na fé, e exercendo a função do seu sacerdócio baptismal, apresenta preces a Deus pela salvação de todos» (IGMR 69). A comunidade cristã situa-se, pois, como mediadora entre Deus e o resto da humanidade e da Igreja, para interceder por elas.
O presidente, da sua *cadeira, convida a orar; outro ministro ou leitor enuncia as intenções; e a comunidade responde, sendo possível, cantando, uma invocação como «Ouvi-
-nos, Senhor». Esta resposta é a verdadeira «Oração dos Fiéis», a intervenção que a comunidade protagoniza, e que se dirige a Deus (enquanto as intenções são sugestões às comunidade). O Concílio assinalou as grandes direcções em que se costumam agrupar estas intenções (cf. SC 53).
O Leccionário acrescenta outro matiz. Esta Oração Universal, por um lado, é fruto da audição da Palavra, e, por outro, preparação para a passagem à Eucaristia, «de modo que, completan¬do em si mesmo os frutos da Palavra, possa entrar do modo mais adequado na liturgia eucarística» (OLM 30; EDREL 832).
Assim, a Oração Universal aparece como um nobre exercício do sacerdócio baptismal dos fiéis, que, de pé, se dirigem a Deus, mostrando ao mesmo tempo a sua sintonia com o que Ele lhes comunicou na Palavra e a sua solidariedade com os seus irmãos, os homens, sobretudo os que sofrem.