Dicionário elementar de liturgia
José Aldazábal
Antigo Testamento (AT)
Uma das novidades mais significativas da nova liturgia pós-conciliar foi o lugar mais destacado que se deu à proclamação do AT.
No *ciclo ferial da Eucaristia (de dois anos) e no Leccionário (sobretudo o bienal) do ofício de Leitura, incluem-se longas selecções do AT, em leitura semicontinuada. Também as primeiras leituras da Eucaristia dominical se tomam do AT, excepto na Cinquentena Pascal. No caso dos domingos, o AT «se compõe harmonicamente com o Evangelho» (OLM 67), enquanto que na leitura continuada das férias e no Ofício de Leitura se seleccionam, unicamente, para, a partir deles, se seguir a dinâmica da História da Salvação.
Desta forma, se ajuda à compreensão do mistério da salvação em Cristo, também na sua perspectiva histórica, que abarca, num único movimento, a preparação de Israel e o tempo da Igreja, ambos centrados no acontecimento de Cristo. «Na liturgia, a Igreja segue fielmente o modo de ler e interpretar a Sagrada Escritura que o próprio Cristo utilizou, quando exortava a perscrutar todas as Escrituras a partir do “hoje” que definiu a sua realidade pessoal» (OLM 3; cf. Lc 4,16-21; 24,5-
-35.44-49). Com a distribuição das leituras, pensada para os domingos (AT, NT e Evangelho) «põe-se em evidência a unidade dos dois Testamentos e da história da salvação, cujo centro é Cristo celebrado no seu Mistério Pascal» (OLM 66).
O AT ajuda-nos a entender o NT. As categorias que designam a salvação em Cristo são tomadas da herança do Povo de Israel: Páscoa, memorial, Messias, profetas, o Servo. Como dizia Santo Agostinho, no AT, está latente (latet) já o Novo, e, no Novo, se torna patente (patet) o Antigo (cf. DV 16 e OLM 5). Isto vale para entender o mistério de Cristo e também para a lição da nossa vida cristã. A história de Israel e a nossa são continuação de uma mesma actuação salvadora de Deus, com a radical novidade de se ter cumprido em Cristo, no tempo da plenitude.