Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Liturgia das Horas

 

Chama-se «Liturgia das Horas» à oração que, ao longo dos séculos, a Igreja organizou, seguindo o ritmo do dia e da noite, da manhã e da tarde. Quando se celebra Laudes e Vésperas ou as outras horas, não só se reza, mas participa-se na oração de toda a Igreja. Mais ainda, entra-se na oração de Jesus Cristo. E, assim, santifica-se a jornada inteira, ou seja, é orientada para Deus, dando um tom de louvor e de súplica ao correr das horas do dia.
Todos os povos, e sobretudo o de Israel, deram um tom de oração ao decorrer da jornada. No Templo, ou nas sinagogas, ou em suas casas, os judeus faziam oração três vezes ao dia – pela manhã, ao meio-dia e à tarde –, com salmos e cânticos.
Cristo, o melhor mestre, também deu o exemplo de oração, na solidão do deserto ou em companhia dos discípulos, na sinagoga ou no Templo, seguindo os ritmos de oração herdados do seu povo (cf. os números que o Catecismo dedica à oração de Jesus: CIC 2599-2615). Aprendeu a oração do seu povo, mas sobretudo fez-nos partícipes da sua oração divina: «O Sumo Sacerdote da nova e eterna Aliança, Cristo Jesus, assumindo a natureza humana, trouxe a este exílio terrestre aquele hino que se canta eternamente na morada celeste» (SC 83).
E agora como Senhor Ressuscitado, na sua existência pascal, continua orando. Louva o seu Pai e intercede continuamente por nós, exercendo o seu papel de Mediador e Sacerdote diante do Pai. Agora «ressoa no coração de Cristo o louvor divino expresso em termos humanos de adoração, propiciação e intercessão. E tudo isso Ele apresenta ao Pai, como Cabeça da nova humanidade, Mediador entre Deus e os homens, em nome de todos, para benefício de todos» (IGLH 3).
A nossa oração das Horas não é só nossa. É oração com Cristo: «Ele une a si toda a comunidade dos homens, e de tal modo que, entre a oração de Cristo e a de toda a humanidade existe uma estreita relação» e de uma maneira especial associa a Si os que formam parte do seu Corpo, a Igreja (cf. IGLH 6-7). A nossa oração é assim «a voz da Esposa que fala com o Esposo, ou melhor, é a oração de Cristo com o seu Corpo que é diriga ao Pai» (SC 84). «É necessário, portanto, que, enquanto celebramos o ofício, reconheçamos o eco das nossas vozes na de Cristo e a voz de Cristo em nós. A nossa oração recebe a sua unidade do coração de Cristo» (Paulo VI, Laudis canticum).
A Liturgia das Horas é a oração que a Igreja fez sua. Ao longo dos séculos, foi variando o número de horas, ou a distribuição dos salmos, ou os textos das preces. Mas esta é a oração que a Igreja considera como sua, e, portanto, tem a eficácia e a dignidade de ser a oração eclesial por excelência, unida à de Cristo.
Além disso, a Liturgia das Horas, que antes se considerava quase como a oração própria dos cónegos, dos ministros ordenados ou dos religiosos obrigados ao coro, agora, a Igreja considera-a como a oração de todo o povo de Deus. Todos são convidados idealmente a esta oração litúrgica, sobretudo nas duas horas fundamentais de Laudes e Vésperas: é a oração comunitária do Povo de Deus unido a Cristo.
Dentro desta comunidade cristã que, toda ela, é convidada a unir-se à oração de Cristo e da Igreja, há duas categorias de pessoas que o são de modo muito particular: os ministros ordenados e os religiosos. Os ministros ordenados, porque representam de um modo especial Cristo como orante e sacerdote, e os religiosos porque devem ser, dentro da comunidade eclesial, sinal e fermento (cf. IGLH 23-32).
A estrutura que se foi configurando, ao longo dos séculos, para a Liturgia das Horas, visa ajudar-nos a santificar o tempo, ou seja, a orientá-lo para Deus e para o bem dos outros. O nome agora preferido – em vez de Breviário ou Ofício Divino –, é o de «Liturgia das Horas»: «Liturgia», porque é uma celebração; «das Horas», porque segue o ritmo do dia e da noite, a luz e a escuridão, a manhã e a tarde, e, assim, abarca na sua dinâmica de louvor ou de súplica toda a jornada.
As duas horas fundamentais são as de Laudes e Vésperas, que são consideradas, desde os primeiros séculos, como as mais apropriadas a toda a comunidade cristã, no princípio e no final das actividades do dia. Eram as horas do «ofício eclesial», a cuja celebração estavam presente o bispo, os outros ministros, os monges mais próximos e o povo, como nos testemunha, por exemplo, o relato da peregrina Egéria em Jerusalém.
A estas se acrescentaram, com o decorrer dos séculos, sobretudo em ambiente monástico, outras horas diurnas e nocturnas, para ajudar a cumprir, com maior generosidade ascética, o mandamento da oração incessante (cf. Lc 18,1). Assim, surgiram Prima, Tércia, Sexta, Nona e Completas. De noite, organizou-se também a oração de vários modos, como vigílias e nocturnos, que, depois se fizeram antes do amanhecer e se chamaram Matinas.
O Concílio Vaticano II deu normas para a revisão e reforma desta oração oficial da Igreja (cf. SC 83-101): deu prioridade a Laudes e Vésperas, suprimiu Prima, deixou que das horas intermédias, fora das comunidades corais, se possa escolher uma só, indicou que Completas seja sempre oração do fim da jornada, enquanto que o ofício de leitura (que ainda se chama Matinas) não se sujeite necessariamente à hora nocturna, recomendou a «verdade do tempo» («veritas temporis») na reza de cada Hora, e deu outra série de critérios para a reza dos salmos, hinos e leituras.
Em 1971, precedida pela Constituição Apostólica de Paulo VI, Laudis canticum (cf. EDREL 1162-1180), apareceu a Institutio Generalis Liturgiæ Horarum, com a motivação e as orientações para a celebração da Liturgia das Horas, nos seus diversos aspectos (cf. EDREL 1181-1464).

--> Completas. Intermédia (Hora). Laudes. Matinas. Nona. Prima. Salmos. Sex¬ta. Vigília. Vésperas.