Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Kyrie

 

É o vocativo da palavra grega Kyrios, que significa «Senhor», e, no NT, aplica-se sobretudo a Jesus Cristo. Na liturgia, é o nome com que se designam as invocações do rito de entrada da Missa: «Kyrie, eleison; Christe, eleison» («Senhor, tende piedade de nós; Cristo, tende piedade de nós»).
Estas invocações, inicialmente, estavam relacionadas com a oração dos fiéis, que agora se recuperou. Nos primeiros séculos – segundo o relato da peregrina Egéria, de finais do séc. IV –, depois das leituras bíblicas e da homilia, a cada petição da oração dos fiéis, a assembleia respondia «Kyrie, eleison». Talvez tenha sido o papa Gelásio, em finais do século V, ou pelo menos a ele se atribui a mudança, quem passou esta invocação para o rito inicial, com a famosa «deprecatio Gelasii».
Mais tarde, no século VI, já não se intercalavam as frases de invocação, mas dizia-se apenas a resposta ou acla¬mação. Foi variando o número das aclamações, até que se estabilizou em três Kyries, três Christes e de novo três Kyries. Apesar da interpretação trinitária bastante divulgada, parece que todas tinham, ao princípio, um sentido cristológico.
A reforma actual – a não ser por razões de ordem musical – deixou dois Kyries, dois Christes e dois Kyries, cantados primeiro pelo coro ou pelo solista e repetidos pela comunidade. Os Kyries encabeçam também as invocações das ladainhas.
O Kyrie não tem tanto um tom penitencial – embora com frequência se intercale, entre as invocações penitenciais –, mas de aclamação a Cristo como Senhor e Messias: «Dado tratar-se de um canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é normalmente executado por todos, em forma alternada entre o povo e o coro ou um cantor» (IGMR 52).
O Kyriale é o cantoral que recolhe a música dos cânticos do Ordinário da Missa (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Agnus Dei, etc.), paralelo, portanto, ao Gradual e ao Antifonário.