Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

instrumentos

 

Na liturgia, usa-se o termo «instrumentos» em vários sentidos.
Antes de mais, no sentido próprio e directo de úteis ao trabalho humano. O Cerimonial das Bênçãos (nn. 678-781) oferece as orações e gestos com que se podem benzer, para que o seu uso seja sempre conforme ao carácter evangélico cristão. De igual modo se podem benzer os instrumentos técnicos e de trabalho (nn. 678-702).
Outras vezes, fala-se de instrumentos simbólicos para exprimir, com uma pedagogia complementar, a missão que alguém recebe na comunidade eclesial. Assim, quando, num sacramento, se fala da entrega de instrumentos ou de insígnias, quer-se exprimir simbolicamente o encargo de que se reveste alguém: ao bispo faz-se-lhe a entrega do livro dos Evangelhos, do anel, do báculo, da mitra; ao diácono, além de o revestir com a dalmática e a estola, faz-se-lhe a entrega do livro dos Evangelhos; ao presbítero, a quem se reveste da casula, entrega-se-lhe a patena e o cálice com pão e vinho. Da mesma forma, na Profissão religiosa, as medalhas, o crucifixo, os hábitos, ou, na bênção de um abade ou abadessa, o livro da Regra, o anel, a mitra, o báculo.
Mas, na liturgia, também se fala dos instrumentos musicais, que têm um papel muito importante na celebração cristã. O Concílio exprimiu-o claramente: «Na Igreja latina tenha-se em grande consideração o órgão de tubos, instrumento musical tradicional, cujo som é capaz de acrescentar um esplendor notável às cerimónias da Igreja e de elevar poderosamente os ânimos para Deus e para as realidades celestes. No culto divino podem admitir-se outros instrumentos… desde que sejam aptos ou possam adaptar-se ao uso sagrado, convenham à dignidade do templo e favoreçam verdadeiramente a edificação dos fiéis» (SC 120). «Os instrumentos musicais podem ser de grande utilidade nas celebrações sagradas, quer acompanhem o canto, quer intervenham sós» (MS 62).
Foi já tardiamente que se introduziram os instrumentos musicais na liturgia da Igreja, pois no princípio estavam ausentes das celebrações. No Oriente, ainda hoje, não são aceites. Esta resistência deveu-se talvez a justificadas cautelas, pois sempre se temeu a sua capacidade de concentrar atenções, e que pudessem adquirir uma autonomia tão exagerada que acabassem por adulterar a sua função própria, «ministerial». Ou seja, os instrumentos na celebração cristã, tanto na criação de ambiências, tocados a sós, como no acompanhamento do canto dos solistas, do coro ou da comunidade, não são «independentes», motivados meramente pelo seu valor artístico, como num concerto, mas têm a finalidade de ajudar os fiéis a celebrarem melhor e a expressarem os seus sentimentos de fé. O organista e os outros instrumentistas têm o nobre ministério de ajudar a comunidade, num clima de oferenda espiritual e expressão de louvor e de súplica, diante de Deus.
Inclusive, quando os instrumentos musicais são silenciados, eles realizam uma das suas funções. No Advento, pede-se que o seu uso seja moderado, e que, na Quaresma, e sobretudo no Tríduo Pascal, antes do Glória da Vigília, só soem enquanto se prestem para acompanhar ou sustentar o canto. O silêncio do seu som festivo sublinha assim o carácter de recolhimento que estes tempos têm como prepração de uma grande festividade.

--> Música. Órgão.