Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

igreja (lugar)

 

A palavra «igreja» vem do grego, ekklesía, de kaleo, ek-kaleo (chamar: significa, portanto, convocatória, assembleia reunida). Já nas cartas de S. Paulo se encontra esta denominação para a comunidade cristã (cf. 1Cor 11,22).
O mesmo nome utiliza-se também para designar o lugar da reunião comunitária, o templo, e é o sentido que aqui nos interessa. Segundo o CDC (nn. 1205), «lugares sagrados são aqueles que, mediante a dedicação ou a bênção prescrita pelos livros litúrgicos, se destinam ao culto divino e à sepultura dos fiéis».
Todas as religiões dão importância ao lugar sagrado, lugar de oração e de encontro com a divindade. Os Judeus tiveram também o seu espaço cultual: a «tenda da reunião», ao longo da sua peregrinação pelo deserto e, a seguir, o Templo de Jerusalém. A novidade radical foi a pessoa de Cristo: assim como é para sempre o sacerdote, a vítima e o altar, que ia oferecer o sacrifício definitivo da Aliança, foi constituído Ele mesmo em Templo do verdadeiro culto e do encontro com Deus: «Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei» (Jo 2,19). Falava do Templo do seu Corpo.
Os cristãos, desde o princípio, não deram tanta importância ao lugar como à comunidade. Ao contrário dos pagãos e dos judeus, que punham grande ênfase no Templo como lugar da presença divina, domus Dei, ao qual poucos tinham acesso, entenderam o lugar de culto sobretudo como domus ecclesiae (a casa da comunidade), porquanto os ajudava a realizar melhor o seu culto a Deus, olhando a própria comunidade como lugar privilegiado da presença salvadora de Cristo.
A primeira comunidade não quis cair na tendência sacralizadora dos Judeus com o seu Templo: «O Altíssimo não habita, porém, no que é feito pela mão dos homens» (Act 7,48). Consideravam-se sempre reunidos à volta de Cristo Ressuscitado. A própria comunidade é o «lugar» preferente do encontro com Deus, porque ali, onde está a comunidade, está Cristo, segundo a sua promessa. Por isso, dedicaram para o seu culto salas dignas: «havia bastantes lâmpadas na sala de cima, onde estávamos reunidos» (Act 20,8); e, sobretudo, a partir do século IV, construiram igrejas e basílicas, espaços expressivos da dignidade do que se celebra e aptos para ajudar pedagogicamente ao clima de oração comunitária.
Ao longo dos séculos, houve uma evolução nos critérios de construção das igrejas, desde as basílicas romanas, que sublinham a linha horizontal, ou as bizantinas que preferem a construção central com cúpula circular, ou as góticas que têm uma tendência vertical, ou ainda as barrocas de beleza sensual e abundante, até às modernas, que, sobretudo, cuidam da praticidade visual, acústica e comunitária.
O Missal pede, antes de mais, a funcionalidade do lugar da celebração: «as igrejas e os outros lugares devem ser aptos para a conveniente realização da acção sagrada e para se conseguir a participação activa dos fiéis.» Mas, além de funcionalidade, pede-se que a igreja manifeste a expressividade educativa do mistério que se celebra: «os edifícios sagrados e os objectos destinados ao culto divino devem ser dignos e belos como sinais e símbolos das realidades celestes» (IGMR 288). De modo que «o edifício sagrado, na sua disposição geral, deve reproduzir de algum modo a imagem da assembleia congregada» (IGMR 294), porque «o edifício que vai ser construído de pedras será sinal visível daquela Igreja viva ou casa de Deus, que eles próprios constituem» (Rito da Dedicação, n.1, EDREL 1630) ao mesmo tempo que o é também do Templo celestial, o Santuário definitivo para o qual a comunidade vai caminhando na sua existência temporal.

--> Basílica. Dedicação.