Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Espírito Santo

 

O Espírito de Deus – spiritus, pneuma (sopro, vento) – tem, no plano salvador trinitário, um protagonismo que nos últimos anos se está felizmente redescobrindo.
Desde o dia de Pentecostes, em que, com a sua vinda, transformou a primeira comunidade, Ele é, em todos os aspectos da vida, a força viva: na evangelização, na construção da fraternidade, no testemunho de amor e de unidade. Mas é-o de modo particular na celebração litúrgica e na oração.
O Catecismo da Igreja Católica dedica, além do artigo do Credo «Creio no Espírito Santo» (CIC 683-747), uma notável secção (cf. CIC 1091-1112), «O Espírito Santo e a Igreja, na Liturgia»), em que se descreve a sua actuação no plano sacramental de Deus. É Ele quem prepara para receber Cristo, quem traz continuamente à memória dos crentes o que Cristo ensinou, e quem actualiza o seu mistério salvador da Páscoa. É Ele quem, invocado pela Igreja em oração de epiclese – sobre a água, os óleos, o pão e o vinho, os ordenandos, os doentes, os noivos –, dá eficácia a todos os sacramentos. No Baptismo, o homem é regenerado «pela água e pelo Espírito». Na Confirmação, recebe-se como o melhor dom do Senhor Ressuscitado. Na Eucaristia, invoca-se para que transforme primeiro o pão e o vinho e, depois, a própria comunidade.
A salvação que os sacramentos comu¬nicam é obra do Espírito. Ele é o «artífice das obras-primas de Deus, que são os sacramentos». «A finalidade da missão do Espírito em toda a acção litúrgica é pôr em comunhão com Cristo para formar o seu Corpo», e «que vivamos da vida de Cristo ressuscitado». Por isso, pode-se resumir dizen¬do que «a liturgia torna-se a obra comum do Espírito Santo e da Igreja» (CIC 1091). «A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e própria de cada sacramento. O Espírito cura e transforma aqueles que o ¬recebem, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adopção deifique os fiéis, unin¬do-os vitalmente ao Filho único, o Salvador» (CIC 1129).
É notável a renovada consciência actual do papel do Espírito, na eficácia da Palavra de Deus. O Ordenamento das Leituras da Missa apresenta «a relação entre a Palavra de Deus proclamada e a acção do Espírito Santo» [OLM c) 9]: «Para que a Palavra de Deus realize de facto nos corações aquilo que ressoa aos ouvidos, requer-se a acção do Espírito Santo». O que inspirou os livros sagrados actua agora em cada fiel que escuta essa Palavra, que por sua acção se torna em viva e eficaz, dando eficácia à resposta dos fiéis (cf. OLM 2-6). «Alimenta a fé dos ¬presentes acerca da palavra, que se torna sacramento pelo Espírito Santo» (OLM 41). Ou como diz o Catecismo, é Ele «que dá aos leitores e *ouvin-tes, segundo a disposição dos seus corações, a inteligência espiritual da ¬Palavra de Deus» (CIC 1101). É, na ¬verdade, o «exegeta da Palavra» (cf. DV 12), e o mesmo se pode dizer da oração.
Como o Espírito moveu Jesus na sua oração – «Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te, ó Pai”…» (Lc 10,21) –, agora «vem em auxílio da nossa fraqueza, […] e intercede por nós com gemidos inefáveis» (Rm 8,26) e grita dentro de nós «Abbá, ó Pai!» (Rm 8,15; Gl 4,6). Também aqui o mesmo Espírito que inspirou os salmistas, inspira e dá vida à oração dos que oram com os Salmos (cf. IGLH 100.102.104). «Nenhuma oração, portanto, se pode fazer sem a acção do Espírito Santo» (IGLH 8).
Todas elas são perspectivas realmente dinâmicas, profundas e cheias de consequências, que o Catecismo completa com as suas comparações muito expressivas, a do fogo e a da seiva: «Tal como o fogo transforma em si tudo o que atinge, assim o Espírito Santo transforma em vida divina tudo quanto se submete ao seu poder» (CIC 1127). «O Espírito Santo é como a seiva da Videira do Pai, que dá fruto nos sarmentos» (CIC 1108).

--> Epiclese. Pentecostes.