Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Cruz

 

A Cruz (em latim, crux e, em grego, stauros) é o símbolo primordial de todos os cristãos.
Também se encontrava em várias culturas da Antiguidade, com simbologia cósmica, porque os seus braços cruzados apontam para as quatro direcções, ou representando o homem, de pé, com os braços abertos, que abarcam os quatro pontos cardiais. Mas, desde a morte de Jesus, a cruz – apesar de todo o sentido negativo que tinha, como instrumento de tortura para justiçar os malfeitores – converteu-se no símbolo por excelência da sua morte salvadora. Para Paulo, a cruz é o resumo de toda a obra salvadora de Cristo (cf. 1Cor 1,17-25; Ef 1,7; Cl 1,13-14). Para os seguidores de Jesus Cristo, a cruz converteu-se em símbolo de fidelidade e profundidade: têm de tomar a sua cruz e segui-
-lo (cf. Mt 16,24).
Desde cedo, a cruz foi objecto de veneração para os cristãos, sobretudo a partir do século IV. Para isso, muito contribuiu o relato da visão do imperador Constantino («in hoc signo vinces», por este sinal vencerás) e o encontro da suposta verdadeira cruz, em Jerusalém, por parte da sua mãe, Santa Helena.
A cruz apresenta-se sob diversas formas: a latina é de um pau vertical mais longo e um horizontal mais curto; a grega tem os quatro braços iguais; a de Santo André é em forma de X; há uma cruz em forma de «tau» ou T; outras têm dois paus transversais, em vez de um; há a cruz de Lorena, a de Malta, a gamada ou suástica, muito anterior a Cristo, etc.
A cruz está presente em muitas ca¬sas cristãs, ou na entrada das povoações, como cruz terminal. Nas igrejas, deve situar-se no altar ou próximo dele, num sítio visível. Pode ser a mesma que pre¬cedeu a procissão de entrada. Quan¬do há incensação, além do altar e das pessoas, incensa-se também a cruz, como sinal de honra e veneração.
O costume antigo de, nas duas últimas semanas antes da Páscoa, cobrir as cruzes – tal como as imagens – foi abandonado.
Na Sexta-Feira Santa, um dos mo¬men¬tos mais expressivos da celebração da morte de Cristo é o da Adoração da Cruz. Cada um dos fiéis passa a ve¬ne¬rar – normalmente com uma genu¬fle¬xão e um beijo – a cruz do Senhor, que momentos antes se apresentou à comu¬nidade com aclamações e sinais de veneração e, se se quiser, com o gradual descobrimento do véu que a cobre. Entretanto, cantam-se, além das «lamentações», cânticos centrados no valor salvífico da cruz: «Vexilla Regis prodeunt… o Crux, ave, spes unica», «Vitória, tu reinarás», «Ó Cruz fiel». Ao terminar a celebração, a cruz deixa-se no lugar central, iluminada, para que os fiéis possam venerá-la, beijá-la e orar diante dela, durante o resto de Sexta-
-Feira e todo o Sábado Santo (cf. CFP 68-72: EDREL 3178-3182).
No dia 14 de Setembro, celebra-se a Festa da Exaltação da Santa Cruz, cujas raízes mergulham no século V, pelo menos, em Jerusalém. Em Roma, celebrava-se a «invenção» ou a descoberta da cruz, em 3 de Maio, mas, desde 1960, unificou-se esta festa com a de 14 de Setembro.
As cruzes que se expõem em lugares públicos para veneração, na igreja ou fora dela, normalmente, benzem-se. No Cerimonial dos Bispos (CB 1011--1022) e na Celebração das Bênçãos (960-983) encontram-se as normas e os textos para esta bênção.

--> Sinal da cruz.