Santos

Santa Inês, virgem e mártir

 

Nota Histórica

Memória
Inês, romana, foi forçada a escolher, ainda antes dos 16 anos, entre Cristo e esta vida mortal, tendo escolhido sem hesitar o seu esposo celeste, ao qual, como desejava, se uniu para sempre, mediante o martírio. De facto, superou a tenra idade e o tirano, conquistou profunda admiração entre os gentios e mereceu glória ainda maior junto de Deus. Neste dia celebra-se a sepultura do seu corpo, na segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no princípio do século IV.

Comum dos mártires: para uma virgem mártir;
ou Comum das virgens: para uma virgem.

 

Missa

PARA UMA VIRGEM MÁRTIR

Antífona de entrada
Já a virgem forte segue o Cordeiro por nós crucificado,
sacrifício da pureza, holocausto da castidade.

Ou:
Ó ditosa virgem, que, renunciando a si mesma e tomando a sua cruz,
seguiu o exemplo do Senhor, esposo das virgens e rei dos mártires!.


Oração coleta
Deus todo-poderoso e eterno,
que escolheis os mais frágeis do mundo para confundir os fortes,
concedei que, celebrando o martírio de santa Inês,
imitemos a constância da sua fé.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos.


Oração sobre as oblatas
Os dons que Vos apresentamos,
na celebração de santa N.,
Vos sejam agradáveis, Senhor,
como foi agradável a vossos olhos
o combate do seu martírio.
Por Cristo nosso Senhor.

Antífona da comunhão Ap 7, 17
O Cordeiro, que está no meio do trono,
conduzirá os eleitos às fontes da água viva.

Oração depois da comunhão
Senhor, que glorificastes santa N.
com a dupla coroa da virgindade e do martírio,
concedei-nos, por este sacramento,
a graça de vencermos corajosamente todo o mal
e de chegarmos à glória do céu.
Por Cristo nosso Senhor.

 

Liturgia das Horas

Do Tratado de Santo Ambrósio, bispo, sobre as virgens

(Liv. 1, cap. 2.5.7-9: PL 16 [ed. 1845), 189-191) (Sec. IV)

Ainda não apta para o sofrimento
e já madura para a vitória

Celebramos uma virgem: imitemos a sua integridade. Celebramos a mártir: ofereçamos sacrifícios.
Celebramos Santa Inês. Conta-se que teria sofrido o martírio com doze anos. Quanto mais detestável se mostra a crueldade que nem a infantil idade poupou, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou testemunho.
Em corpo tão pequeno haveria sequer espaço para os sofrimentos? Mas aquela que quase não tinha tamanho para ser ferida pela espada, teve forças para vencer a espada. E contudo, as meninas desta idade não suportam sequer o rosto zangado dos pais e choram como se de feridas se tratasse por causa da picada de um alfinete.
Mas Inês permanece impávida entre as mãos dos cruéis algozes, imóvel perante o pesado e estridente arrastar das cadeias. Oferece o corpo à espada do soldado furibundo, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela; levada à força até ao altar dos ídolos, estende as mãos para Cristo entre as chamas de fogo, e no próprio lume do sacrilégio assinala o troféu do Senhor vitorioso; por fim introduz o pescoço e as mãos nos aros de ferro, mas nenhum elo é suficientemente apertado para reter membros tão pequenos.
Novo género de martírio! Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória; mal pode combater e facilmente triunfa; dá uma lição de fortaleza, apesar da sua tão tenra idade. Nenhuma noiva se adiantaria para o leito nupcial com aquela alegria com que a virgem avançou para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada não de tranças mas de Cristo, e coroada não de flores mas de virtudes.
Todos choram, só ela não tem lágrimas. Todos se admiram de que tão generosamente entregue a sua vida quem ainda não a começara a gozar, como se já a tivesse vivido plenamente. A todos espanta que se levante já como testemunha de Deus uma criança, que, pela idade, não podia ainda dar testemunho de si mesma. E afinal foi fidedigno o testemunho que deu acerca de Deus esta criança que ainda não podia testemunhar a respeito de um homem; porque o que ultrapassa a natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Quantas ameaças do algoz para que ela se atemorizasse, quantas seduções para que se convencesse, quantas promessas para que o desposasse! Mas a sua resposta foi esta: «É uma ofensa ao Esposo fazer-se esperar; aquele que primeiro me escolheu para Si, esse é que me receberá. Porque demoras, verdugo? Pereça este corpo, que pode ser amado por quem eu não quero». Levantou-se, rezou, inclinou a cabeça.
Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado; tremer a mão direita do verdugo; empalidecerem-se os rostos, temerosos do perigo alheio, enquanto a jovem não temia o próprio.
Tendes numa única vítima dois martírios, o da pureza e o da fé. Permaneceu virgem e foi mártir.