Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Vigília Pascal

 

«Qual é, pois, a razão porque estão hoje de vigília os Cristãos, numa festa anual? É que hoje é a nos¬sa maior Vigília e ninguém pensa noutra celebração de aniversário quando, com impaciência, perguntamos dizendo: “Quando é a Vigília?” “Daqui a quantos dias é a Vigília?” Como se, em comparação com esta, as outras não ¬merecessem tal nome. […] Mas a Vigília desta noite é tão grande que poderia reivindicar para si só, como próprio, o nome comum de todas as outras» (Santo Agostinho, Sermão Guelf. V, 2).
«Nela, a Igreja se mantém de vigia à espera da Ressurreição do Senhor, e a celebra com os sacramentos da iniciação cristã» (CFP 77; EDREL 3187). «Passamos em vigília a noite em que o Senhor ressuscitou, em que para nós inaugurou, na sua carne, aquela vida em que não há espécie alguma nem de morte nem de sono» (IGLH 70).
Na história, a Vigília Pascal foi a primeira a ser organizada pela comunidade cristã, como uma noite de vela, em oração e escuta da Palavra, concluindo com a celebração da Eucaristia.
Além disso, muito cedo se entendeu o carácter baptismal da Páscoa, e se viu que era muito coerente celebrar os sacramentos da Iniciação (Baptismo, Confirmação e a primeira Eucaristia), como conclusão do catecumenado, precisamente nesta noite. Também agora, quando se trata da iniciação de crianças em idade escolar ou de adultos, o Ritual recomenda que se celebrem estes três sacramentos juntos na Vigília Pascal.
A celebração desta Vigília sofreu, ao longo dos séculos, uma clara decadência. Basta recordar que, até que Pio XII empreendesse a reforma da Semana Santa, a Vigília celebrava-se na manhã de Sábado Santo. Foi este Papa que, em 1951, a restituiu à noite de sábado para domingo.
A celebração cristã principal de todo o ano, na qual se condensa todo o Mistério da Salvação em Cristo e a nossa participação nele, compõe-se agora destes momentos:
• o «Lucernário» ou rito de entrada, com a bênção do fogo novo, a iluminação do Círio Pascal, a procissão à volta dele, e o solene Precónio Pascal, o Exsultet;
• a Liturgia da Palavra, com sete leituras do AT, umas mais pascais, como a da criação do mundo, o sacrifício de Isaac e a passagem do Mar Vermelho, e outras mais baptismais, como as proféticas; e duas do NT, a dos Romanos, baptismal, e o Evangelho da ressurreição, segundo o evangelista do ano; estas leituras vão acompanhadas dos seus respectivos salmos responsoriais e de uma oração; ao passar do AT ao NT, canta-se festivamente o Glória a Deus nas alturas, e, como aclamação do Evangelho, o solene Aleluia, que se tinha silenciado desde o início da Quaresma;
• a liturgia baptismal, com a celebração do Baptismo (e a Confirmação);
• e a liturgia eucarística, a mais importante do ano.
Na Carta sobre as Festas Pascais (CFP) explicitam-se as recomendações sobre o seu carácter nocturno, a dinâmica da sua estrutura e as indicações de carácter pastoral.

--> Círio Pascal. Exsultet. Páscoa. Vigília.