Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

sacramento

 

A palavra latina sacramentum designava, na linguagem jurídica, o depósito de um valor como garantia da boa-fé e da promessa do cumprimento. Na linguagem militar, assim se chamava ao juramento de fidelidade. No Cristianismo – começando pelo Norte de África, no século II – às vezes, traduziu-se por este termo o mysterion grego. Mas, quanto ao termo mysterium deu-se-lhe sobretudo o sentido de uma realidade oculta, enquanto sacramentum foi-se utilizando para designar os sinais visíveis e eficazes das realidades divinas, as realidades mistéricas celebradas na liturgia cristã, pelas quais Deus nos comunica a salvação na Igreja, pela participação no Mistério Pascal de Cristo.
O verdadeiro sacramento é Jesus Cristo. Como dizia Santo Agostinho, «não há outro sacramento de Deus senão Cristo» (Carta 187). Ele é o sinal vivente que nos exprime a salvação de Deus, contém-na em si mesmo, e no--la comunica eficazmente, agora, por meio da sua Igreja. Cristo não só instituiu os sacramentos, como Ele próprio é o sacramento primordial e definitivo do encontro de Deus com a humanidade.
Ora bem, o que Cristo tinha de «sacramento visível», passou agora à sua Igreja: «a Igreja, que em Cristo, é como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (LG 1). Como sacramento, a Igreja «serve também de instrumento da redenção universal» (LG 9), «sacramento universal de salvação» (LG 48), por meio do qual Cristo manifesta e realiza ao mesmo tempo o mistério «do amor de Deus para com o homem» (cf. GS 45). «A missão da Igreja não se acrescenta à de Cristo e do Espírito Santo, mas é o sacramento dela» (CIC 738; cf. 774-776).
Dentro desta Igreja, toda ela sacramental, se configuraram, por vontade inicial de Cristo e por um desenvolvimento que a Igreja precisou ao longo dos séculos, os sete sacramentos, no sentido próprio do termo: Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Doentes, Ordem sacerdotal e Matrimónio. Estes sete sacramentos «tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual» (CIC 1210). O sacramento radical é o Baptismo, mas o sacramento chamado por antonomásia «Santíssimo Sacramento» é a Eucaristia.
Os sacramentos, como «“forças que saem” do Corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; acções do Espírito Santo que opera no seu Corpo que é a Igreja, os sacramentos são “as obras-primas de Deus”, na nova e eterna Aliança» (CIC 1116). Estes sete sacramentos, que são eficazes porque continuam a ser actos de Cristo ressuscitado e do seu Espírito, através da Igreja, «manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus-Amor, um em três Pessoas» (CIC 1118).

--> Mistério. Mistério Pascal. Ritual.