Dicionário elementar de liturgia
José Aldazábal
sacerdote
A palavra «sacerdote» vem de sacer (sagrado), e dare, dotare (aquele que pode dar o sagrado). Assim o define Santo Isidoro, no seu livro das Etimologias: «sacerdos quasi sacrum dans». Em grego, diz-se hiereus, de hieros (santo).
Em todas as religiões há pessoas constituídas como mediadoras entre a divindade – o sagrado, o transcendente – e o povo. Pessoas que trazem ao povo, da parte da divindade, a palavra ou o oráculo, e que levam à divindade, da parte do povo, a oração ou o sacrifício. Segundo a Carta aos Hebreus, o sacerdote «escolhido de entre os homens, é constituído em favor dos homens, nas suas relações com Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados» (Heb 5,1).
Em Israel, considerava-se que o povo inteiro, face às outras nações, exercia um verdadeiro sacerdócio (cf. Ex 19,6), mas dentro da própria comunidade, foi-se estruturando, para o culto e para a palavra, o sacerdócio de determinadas pessoas, sobretudo da tribo de Levi (os levitas) e os descendentes de Aarão, em particular, quando já no Templo de Jerusalém se organizou o culto a Javé. Também aquí se tratava de aproximar do povo a palavra divina e de oferecer a Deus, da parte do povo, o louvor e os sacrifícios (cf. CIC 1539-1543).
A grande novidade e plenitude do Cristianismo foi a convicção de que Jesus Cristo tinha sido constituído de uma vez por todas como o único e verdadeiro Sacerdote da Nova Aliança, que «não penetrou num santuário feito por mãos de homem, mas no próprio Céu, para se apresentar agora diante da aceitação de Deus em nosso favor», como «Sumo Sacerdote dos bens futuros», oferecendo-se a si mesmo como sacrifício definitivo por toda a humanidade: cf. Heb 3,1; 4,14ss; 9; 10… Cristo é o profeta e mestre que nos vem da parte de Deus e o sacerdote que se oferece a si mesmo como sacrifício em nome de toda a humanidade (cf. CIC 1544-1545).
A Igreja participa do sacerdócio de Cristo: porque «essa função sacerdotal por intermédio da Igreja que, sem cessar, louva o Senhor e intercede pela salvação de todo o mundo, não só com a celebração da Eucaristia, mas também de outros modos, especialmente com o ofício divino» (SC 83; cf. IGLH 7.15), assim como através do seu testemunho e evangelização diante do mundo, sempre unida ao Sumo Sacerdote, Jesus Cristo (cf. SC 7).
Na comunidade eclesial, há dois modos de participar no único sacerdócio de Cristo (cf. CIC 1546-1547). Por um lado, todo o povo cristão, pelo Baptismo e Confirmação, fica constituído como povo sacerdotal (cf. LG 10.31), participando, cada um segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo Sacerdote, Profeta e Rei, para bem de toda a humanidade. Este sacerdócio comum do povo baptizado, que tinha caído num certo esquecimento na teologia e na espiritualidade eclesiais, ressaltou sobretudo no Concílio (cf. LG), concretizado nos novos livros litúrgicos e assumido explicitamente no Catecismo (cf. por exemplo, o que diz do sacerdócio dos pais dentro da igreja doméstica que é a família: CIC 1657). Todos os baptizados são «“geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus, para anunciar os louvores” daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável» (1Pe 2,9).
Mas, além disso, dentro do povo sacerdotal, por meio do sacramento da Ordem, surge o sacerdócio «ministerial» dos bispos e dos presbíteros, confiado por Cristo aos Apóstolos e seus sucessores, e que está ao serviço do primeiro, o «comum» de todo o povo (cf. CIC 1120.1547-1553). Estes participam do sacerdócio de Cristo de um modo distinto, recebendo o Espírito que os faz actuar «in persona Christi Capitis» («na pessoa de Cristo-Cabeça») (cf. CIC 1548), para serem pastores da comunidade com a palavra e a graça de Deus (cf. LG 11).
--> Ordem. Presbítero.