Santos

Santos Carlos Lwanga e companheiros, mártires

 

Nota Histórica

Memória

Entre os anos 1885 e 1887, foram condenados à morte muitos cristãos no Uganda, por ordem do rei Mwanda, em ódio da religião. Alguns deles eram funcionários da corte real ou até adjuntos do próprio rei. Entre eles distinguem-se Carlos Lwanga e seus companheiros, com idades entre os catorze e os trinta anos. Uns foram decapitados e outros queimados vivos no monte Namugongo, no Uganda, pela sua inquebrantável adesão à fé católica. Carlos e os vinte e um companheiros são os primeiros mártires da África negra.

 

Missa

Antífona de entrada Cf. Sb 3, 6-7.9
O Senhor purificou os seus eleitos como ouro no crisol
e aceitou-os como sacrifício de holocausto.
Eles resplandecerão no tempo da recompensa,
porque a graça e a paz são para os seus santos (T. P. Aleluia).

Oração coleta
Senhor nosso Deus,
que fazeis do sangue dos mártires semente de cristãos,
concedei que a seara da vossa Igreja,
regada com o sangue dos santos Carlos [Lwanga] e companheiros,
produza sempre abundante colheita para o vosso reino.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,
por todos os séculos dos séculos.


LEITURA I 2 Mac 7, 1-2.9-14
«O Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna»

Leitura do Segundo Livro dos Macabeus
Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 123 (124), 2-3.4-5.7b-8 (R. cf. 7 ou Salmo 141 (142), 7c)
Refrão: Como pássaro liberto do laço dos caçadores,
a nossa vida foi salva pelo Senhor.
Ou: O Senhor nos liberta daqueles que nos perseguem.

Se o Senhor não estivesse connosco,
os homens que se levantaram contra nós
ter-nos-iam devorado vivos, no furor da sua ira.
As águas ter-nos-iam afogado,
a torrente teria passado sobre nós:
sobre nós teriam passado as águas impetuosas.

Quebrou-se a armadilha e nós ficámos livres.
A nossa protecção está no nome do Senhor,
que fez o céu e a terra.


ALELUIA Mt 5, 3
Refrão: Aleluia. Repete-se

Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus. Refrão


EVANGELHO Mt 5, 1-12a
«Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».
Palavra da salvação.


Oração sobre as oblatas
Senhor, que destes aos santos mártires
a graça de preferir a morte ao pecado,
recebei as nossas oferendas
e fazei que, ao servir ao vosso altar,
nos consagremos a Vós de todo o coração.
Por Cristo nosso Senhor.

Antífona da comunhão Sl 115, 15
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis (T. P. Aleluia).

Oração depois da comunhão
Senhor, que nos fizestes participar nos divinos sacramentos,
ao celebrarmos o triunfo dos vossos santos mártires,
concedei-nos que, assim como eles encontraram na Eucaristia
a força para suportar os tormentos,
também nós, pela comunhão nos santos mistérios,
sejamos fortes na fé e na caridade,
para vencermos as dificuldades da vida.
Por Cristo nosso Senhor.

 

Liturgia das Horas

Da Homilia do papa Paulo VI,
proferida na canonizacão dos mártires do Uganda

(AAS 56 [1964], 905-906) (Sec. XX)

Glória dos mártires, sinal de regeneração

Estes mártires africanos acrescentam ao álbum dos vencedores, chamado Martirológio, uma página ao mesmo tempo trágica e grandiosa, verdadeiramente digna de figurar ao lado das célebres narrações da África antiga, as quais, neste tempo em que vivemos, julgávamos, por causa da nossa pouca fé, que nunca mais viriam a ter semelhante continuação.
Quem poderia suspeitar, por exemplo, que às célebres actas, tão comovedoras, dos mártires de Cíli, dos mártires de Cartago, dos mártires de «Massa Cândida» de Útica lembrados por Santo Agostinho e por Prudêncio, dos mártires do Egipto tão louvados por São João Crisóstomo, dos mártires da perseguição dos Vândalos, quem poderia suspeitar que a todos esses se haveriam de juntar, nos nossos tempos, novas páginas de história, não menos valorosas nem menos brilhantes?
Quem poderia alguma vez pressentir que às grandes figuras históricas dos santos mártires e confessores de África, tais como Cipriano, Felicidade e Perpétua, e o grande Agostinho, haveríamos nós um dia de associar nomes tão queridos como Carlos Lwanga, Matias Mulumba Kalemba e os seus vinte companheiros? E não queremos esquecer também os outros, de confissão anglicana, que sofreram a morte pelo nome de Cristo.
Estes mártires africanos dão, sem dúvida, início a uma nova era. Oxalá não seja de perseguições e lutas religiosas, mas de renovação cristã e cívica.
Com efeito, a África, orvalhada com o sangue destes mártires, que são os primeiros desta nova era (e queira Deus que sejam os últimos – tão grande e precioso é o seu holocausto), a África renasce livre e resgatada.
A tragédia que os vitimou é tão inaudita e significativa, que apresenta factores suficientes e claros para a formação moral de um povo novo, para a fundação de uma nova tradição espiritual, para simbolizarem e promoverem a passagem de uma cultura simples e rudimentar (não desprovida de magníficos valores humanos, mas contaminada e enfraquecida, como se fosse escrava de si mesma) a uma civilização aberta às superiores expressões do espírito e às formas mais altas da vida social.