Questões e respostas

Casamentos e baptismos em Domingo de Ramos

Tendo a minha paróquia começado no dia 3 de Setembro a agendar casamentos e baptismos para o próximo ano pastoral, verificámos que uns noivos apontaram uma data que coincide com o Domingo de Ramos de 2014. Gostaria de saber: neste  domingo é possível haver casamentos? E baptismos? Temos dito que não, mas as Comunidades religiosas fazem-nos. Peço desculpa, mas preciso realmente desta informação o mais urgentemente possível.

 

Peço desculpa, caríssima consulente, por não ter respondido em tempo útil às suas perguntas. Trabalhos que ocuparam todo o tempo disponível levaram-me a pôr em "quarentena" as respostas a perguntas que chegaram ao Secretariado a partir de Julho de 2013. Como a sua chegou em Setembro acabou por ficar à espera até hoje.

Vamos então à resposta ao que pergunta. Há apenas dois dias, no decurso do ano litúrgico, em que não podem celebrar-se casamentos nem baptismos. São eles a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo. Dizem-no claramente os textos que se transcrevem a seguir: "É estritamente proibido celebrar, na Sexta-feira Santa, qualquer sacramento, excepto os da Penitência e da Unção dos doentes". "No Sábado Santo não é permitida a celebração do Matrimónio nem dos outros sacramentos, excepto os da Penitência e da Unção dos doentes" (Preparação para as festas pascais, n. 61.75; EDREL 3910. 3924)). "Evite-se absolutamente a celebração do Matrimónio na Sexta-feira da Paixão do Senhor e no Sábado Santo" (Ritual do Matrimónio, n. 32; EDREL 4251).

Uma vez que os dias abrangidos pela citada impossibilidade são apenas a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo, fica claro que no Domingo de Ramos podem celebrar-se quer o Matrimónio quer o Baptismo.

Mas nem tudo o que pode fazer-se em determinados dias convém que seja feito. Façamos então outra pergunta: terá sentido litúrgico celebrar o Matrimónio ou o Baptismo no Domingo de Ramos? Salvo algum caso de urgente necessidade, penso que os noivos e os pais deveriam ser os primeiros a compreender que o "Domingo de Ramos na Paixão do Senhor" é um dia inadequado à celebração do Matrimónio e do Baptismo.

Inadequado à celebração do Baptismo por duas razões: a) por ser o domingo pelo qual a Igreja dá início ao mistério do seu Senhor morto, sepultado e ressuscitado; b) e porque o domingo mais próprio para a celebração do Baptismo é o "Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor", que acontecerá dentro de oito dias. Porquê escolher o domingo que dá início à Semana Santa? Liturgicamente é um contra-senso, dada a proximidade da Páscoa e do Tempo pascal.

Inadequado também à celebração do Matrimónio, porque este sacramento é sinónimo de alegria, felicidade, grande festa, abundância de comida e bebida, enquanto o Domingo de Ramos é marcado pelo anúncio da Paixão de Cristo. Em nossa opinião, não manifesta bom gosto quem escolhe o Domingo de Ramos, marcado pela procissão da entrada de Jesus em Jerusalém e pela Missa em que vai proclamar-se a sua Paixão dolorosa, para celebrar um acontecimento tão importante na vida de um novo casal. Há acontecimentos e celebrações que só ficam bem se o tempo e os dias escolhidos lhes forem adequados. Não é que as regras litúrgicas os proíbam. Já vimos que não. Mas em tudo, na vida, é preciso ter bom senso: "O carácter festivo do Matrimónio deve ter expressão adequada, mesmo na decoração da igreja" (Celebração do Matrimónio, 31; EDREL 4250). Serão o vermelho e o roxo, cores litúrgicas da Missa e da procissão dos Ramos, adequadas à alegria do Matrimónio? "Se o Matrimónio se celebrar em dia de carácter penitencial, principalmente no tempo da Quaresma, o pároco deve advertir os esposos para que tenham em conta a índole peculiar daquele dia" (Ibidem, 32; EDREL 4251). Ora, o Domingo de Ramos, além de cair na Quaresma, tem como índole peculiar, não a alegria mas a tristeza. Embora o possamos ver também como manifestação do triunfo real de Cristo na sua entrada em Jerusalém (ramos de oliveira e palmas da procissão), o que nele é mais marcante é o anúncio da sua Paixão.

É verdade que hoje, até mesmo em ambientes cristãos, a Quaresma e o próprio Tríduo pascal passam despercebidos a muitos baptizados. Mas será que esta recomendação do Ritual do Matrimónio não merece ser levada em conta? Quem aceitaria casar-se nos dias de luto provocados pela morte de alguém a quem amava muito ou no aniversário de um acontecimento triste familiar ou social? A Bíblia diz que «para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu» (Eclesiastes 3, 1). Para o casamento também.

Eu sei que o tempo para esta resposta há muito foi ultrapassado, pois o Domingo de Ramos de 2014 caiu a 13 de Abril. Espero, apesar disso, que aquilo que escrevi possa ajudá-la em futuras situações idênticas. E se não for pedir-lhe muito, gostaria de saber qual foi a solução encontrada para o casamento dos noivos referidos na sua pergunta.

Um colaborador do SNL