Faleceu o Cónego Luís Manuel Pereira da Silva

O Secretariado Nacional de Liturgia informa que faleceu hoje, dia 12 de junho, o Senhor Cónego Luís Manuel Pereira da Silva, do Patriarcado de Lisboa.
Membro do Secretariado Nacional de Liturgia, Pároco da Sé Patriarcal de Lisboa; Diretor do Departamento de Liturgia, Assistente da Associação de Professores Católicos, Mestre de Cerimónias Patriarcais.
Descanse na paz do Senhor.

Depois de ter celebrado na terra os divinos mistérios, aquém do véu – por ritos e preces –, partiu para a Liturgia eterna, para além do véu dos significantes sacramentais, o cónego Luís Manuel Pereira da Silva, pároco da Sé de Lisboa, mestre de cerimónias da igreja patriarcal, membro do Secretariado Nacional de Liturgia. A nossa oração confiante é que lhe seja dado viver em plenitude, como membro do Corpo de Cristo Ressuscitado, o mistério de comunhão, verdade, beleza e amor que já vislumbrou e em parte saboreou enquanto nesta terra foi celebrante e mistagogo apaixonado da mesma comunhão, verdade, beleza e amor em que nos é dado participar mediante a Liturgia sacramental da Igreja peregrina.


A nível nacional são conhecidas as intervenções do Cónego Luís Manuel nos Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica. E o perfil que essas intervenções desenham é o do mistagogo, perito e mestre na arte de celebrar.


Estamos persuadidos de que muitas das acusações que hoje se movem contra a Reforma Litúrgica do II Concílio do Vaticano se abateriam ainda mais implacavelmente sobre as celebrações da Igreja Católica na eventualidade de uma não reforma. Pode fazer-se o «desconto» de nostalgias mais ou menos românticas do velho «ordo» mesmo quando protagonizadas, em compreensível movimento de reação cultural, por uma maioria que já não o viveu, nem sabe Latim q.b. para o celebrar da forma consciente preconizada por São Pio X e Pio XII. Mas a verdade é que, olhando para os conteúdos da «lex orandi» e da «lex credendi» da «forma ordinária» e da «forma extraordinária» do Rito Romano, nos deparamos com aquilo que São Paulo VI classificou como «tradição ininterrupta». O "problema" – e de problema se trata – reside, em geral, nos celebrantes. E esse problema não desaparece, por uma espécie de golpe de varinha mágica, com os celebrantes do velho «ordo» mas antes aumenta devido ao distanciamento cultural. Efetivamente, de nada adiantam as melhores reformas nas preces e nos ritos se a renovação dos celebrantes – metanoia da inteligência e da sensibilidade – as não acompanhar. Na verdade, as «reformas» litúrgicas são circunstanciais, ao passo que a «formação» litúrgica é prioridade permanente. E, sem formação litúrgica, já dizia o Concílio, não há qualquer esperança de que uma verdadeira renovação aconteça. Pois bem: o Cón. Luís Manuel escolheu esta que é e será sempre «a melhor parte», que não lhe será tirada.


Luís Manuel seguiu o caminho da mistagogia tão valorizado pelo Catecismo da Igreja Católica, pela assembleia geral do Sínodo dos Bispos de 2005, por Bento XVI e pelo atual pontífice. E o que é a mistagogia? A palavra classifica antigas catequeses cristãs, ministradas aos neófitos, para, a partir da experiência celebrativa já vivida, os ajudar a interiorizá-la, a celebrar de forma mais consciente os mistérios da fé e a dar testemunho do que celebraram numa vida consequente. A Igreja antiga deixou-nos uma herança maravilhosa de «catequeses mistagógicas» nas pregações de grandes Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente: João e Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo, Teodoro de Mopsuéstia, Ambrósio, Agostinho, Leão Magno, Ildefonso de Toledo…


No nº 1075, o CatIgCat diz como deve ser a mistagogia: «a catequese litúrgica visa introduzir no mistério de Cristo (ela é "mistagogia"), partindo do visível para o invisível, do significante para o significado, dos "sacramentos" para os "mistérios"». E o sínodo de 2005, dedicado à Eucaristia, na sua «propositio» nº 16 fazia  uma aposta decidida: «A tradição mais antiga da Igreja recorda que o caminho cristão, sem descurar a inteligência sistemática dos conteúdos da fé, é a experiência que nasce do anúncio, se aprofunda na catequese e encontra a sua fonte e o seu cume na celebração litúrgica. Fé e sacramentos são dois aspetos complementares da atividade santificadora da Igreja. Suscitada pelo anúncio da Palavra de Deus, a fé é alimentada e cresce no encontro de graça com o Senhor ressuscitado nos sacramentos. A fé exprime-se no rito e o rito reforça e fortifica a fé. Daqui a exigência de um itinerário mistagógico a viver na comunidade e com a sua ajuda e que se funda sobre três elementos essenciais: a interpretação dos ritos à luz dos acontecimentos bíblicos em conformidade com a tradição da Igreja; a valorização dos sinais sacramentais; o significado dos ritos em ordem ao empenhamento cristão na vida».


Diríamos que foi esse o programa pastoral do Cón. Luís Manuel, que Deus tem.

2020-06-12 00:00:00