S. Paulo VI: inscrição no Calendário Romano Geral

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

Prot. n. 29/19


DECRETO SOBRE A INSCRIÇÃO DA CELEBRAÇÃO DE SÃO PAULO VI, PAPA, NO CALENDÁRIO ROMANO GERAL

Jesus Cristo, plenitude do homem, vivo e agindo na Igreja, convida todos os homens ao encontro transfigurante com Ele, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). Os Santos percorreram este caminho. Fê-lo Paulo VI, seguindo o exemplo do Apostolo do qual assumiu o nome no momento no qual o Espirito Santo o escolheu como Sucessor de Pedro.

Paulo VI (de nome, João Baptista Montini) nasceu a 26 de Setembro de 1897 em Concesio (Bréscia), na Itália e foi ordenado sacerdote a 29 de Maio de 1920. Desde 1924 colaborou com os Sumo Pontífices Pio XI e Pio XII e, ao mesmo tempo, exerceu o ministério sacerdotal junto dos jovens universitários. Nomeado Substituto da Secretaria de Estado, durante a Segunda Guerra Mundial, empenhou-se em dar exílio aos perseguidos hebreus e também aos refugiados. Sucessivamente foi nomeado Pro-Secretario de Estado para os Assuntos Gerais da Igreja, razão pela qual conheceu e encontrou muitos impulsionadores do movimento ecuménico. Nomeado Arcebispo de Milão, dedicou-se inteiramente ao cuidado da diocese. Em 1958, foi elevado à dignidade de Cardeal da Santa Romana Igreja por São João XXIII, e, depois da morte deste, foi eleito à cátedra de Pedro em 21 de Junho de 1963. Perseverou infatigavelmente na obra iniciada pelos seus predecessores, em particular, levando a cabo o Concílio Vaticano II. Levou a bom termo numerosas iniciativas como sinal da sua viva solicitude nos confrontos da Igreja com o mundo contemporâneo. Entre estas, recordam-se as suas viagens na qualidade de peregrino, realizadas como actividade apostólica e que serviam, por um lado a preparar a unidade dos Cristãos, e por outro, a reivindicar a importância dos direitos fundamentais dos homens. Exerceu ainda o seu Magistério em favor da paz, promoveu o progresso dos povos e a inculturação da fé. Deu cumprimento à reforma litúrgica aprovando ritos e orações seguindo ao mesmo tempo a tradição e adaptando-os aos novos tempos e promulgando com a sua autoridade, para o Rito Romano, o Calendário, o Missal, a Liturgia das Horas, o Pontifical e quase todos os Rituais, a fim de favorecer a participação dos fiéis na liturgia. Do mesmo modo, empenhou-se em que as celebrações pontifícias fossem revestidas de uma forma mais simples. A 6 de Agosto de 1978, no Castelo Gandolfo, entregou a alma a Deus e, segundo as suas directrizes, foi sepultado humildemente, do mesmo modo como tinha vivido.

Deus, Pastor e guia de todos os fiéis, confia a sua Igreja, peregrina no tempo, àqueles que Ele mesmo constituiu vigários do seu Filho. Entre estes, resplandece São Paulo VI que uniu na sua pessoa a fé límpida de São Pedro e o zelo missionário de São Paulo. A sua consciência de ser Pedro, aparece clara se nos recordamos de que, em 10 de Junho de 1969, na visita ao Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, se apresentou dizendo: “O meu nome é Pedro”; mas a missão pela qual se sentia eleito deriva, também, do nome escolhido. Como Paulo, consomou a sua vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta de uma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida dos pobres. A Igreja, de facto, foi sempre o seu amor constante, a sua solicitude primordial, o seu pensamento fixo, o primeiro e fundamental fio condutor do seu pontificado, porque queria que a Igreja tivesse melhor consciência de si mesma e pudesse levar cada vez mais longe o anúncio do Evangelho.

Considerada a santidade de vida deste Sumo Pontífice, testemunhada nas obras e palavras, e tendo em conta o grande influxo exercitado pelo seu magistério apostólico pela Igreja dispersa por toda a terra, o Santo Padre Francisco, acolhendo a petição e os desejos do Povo de Deus, dispôs que a celebração de São Paulo VI, papa, seja inscrita mo Calendário Romano Geral, a 29 de Maio, com o grau de memória facultativa.

Esta nova memória deverá ser inserida em todos os Calendários e Livros Litúrgicos para a celebração da Missa e da Liturgia das Horas. Os textos litúrgicos a adoptar, em anexo ao presente decreto, devem ser traduzidos, aprovados e, depois da confirmação deste Dicastério, publicados sob a autoridade da Conferência Episcopal.

Não obstante qualquer disposição contrária,

Da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 25 de Janeiro de 2019, festa da Conversão de São Paulo, apóstolo.


Robert Card. SARAH
Prefeito

+ Arthur ROCHE
Arcebispo Secretário



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APÓSTOLO CORAJOSO DO EVANGELHO
Com decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, com a data de 25 de Janeiro, o Papa Francisco estabeleceu que a memória de São Paulo VI seja inscrita no Calendário geral da Igreja de Rito Romano, tendo em conta tanto a importância universal da sua atuação como o exemplo de santidade dado ao Povo de Deus. O dia da celebração será 29 de maio, data da sua ordenação presbiteral em 1920, uma vez que 6 de agosto, dia do seu nascimento para o céu, é a festa da Transfiguração do Senhor. Se o santo é aquele que conforma a sua própria vida a Cristo, fazendo frutificar a graça divina nas suas obras, Paulo VI fê-lo respondendo à vocação à santidade como batizado, sacerdote, Bispo, Sumo Pontífice. E agora contempla Deus face a face. Sempre sublinhou que «só na busca sincera de Deus, feita com a oração, com a penitência, com a metánoia de todo o ser, se podem assegurar os êxitos verdadeiros da vida cristã e apostólica, e pôr em prática o primeiro e sempre vivo chamamento do Senhor à santidade: “Impletum est tempus, et appropinquavit regnum Dei; paenitemini et credite evangelio” (Mc 1, 15). “Estote ergo vos perfecti sicut et Pater vester caelestis perfectus est”(Mt 5, 48)» (Discurso ao Colégio Cardinalício nas felicitações pela festa onomástica, 21 de junho de 1976).
Sendo sacerdote, em 1931, quando já tinha começado o seu serviço à Santa Sé, depois de ter escrito que não queria «nenhuma regra, nenhum acrescento extraordinário» que distinguisse a sua vida cristã da forma normal, acrescentou que gostaria de cultivar «um amor particular àquilo que é essencial e comum na vida espiritual católica. Assim – escrevia – terei a Igreja como mãe da caridade: a sua Liturgia será a regra preferida para a minha espiritualidade religiosa». E meditando sobre o «imitamini quod tractatis», deduzia do mistério da Eucaristia a consequente necessidade da «imolação da sua própria vida sempre», indicando-a como «a missa na vida» unida ao «semper gratias agentes» (Apontamentos para os Exercícios espirituais em Montecassino).
Unidos ao decreto, são publicados os textos a acrescentar nos Livros Litúrgicos (Calendário, Missal, Liturgia das Horas, Martirológio). A oração colecta faz ressoar o que Deus realizou no seu fiel servidor: «confiastes a vossa Igreja à guia do Papa São Paulo VI, apóstolo corajoso do Evangelho do vosso Filho», e pede-lhe: «fazei que, iluminados pelos seus ensinamentos, possamos cooperar convosco para dilatar no mundo a civilização do amor». Estão aqui sintetizadas as principais características do seu pontificado e do seu ensinamento: uma Igreja, que pertence ao Senhor (Ecclesiam Suam), dedicada ao anúncio do Evangelho, como recordava na Evangelii nuntiandi, chamada a testemunhar que Deus é amor.
São também indicadas as leituras bíblicas para a Missa, escolhidas do Comum para os papas, e, como leitura para o Ofício de Leituras, alguns passos da homilia dita na última Sessão pública do Concílio, em 7 de dezembro de 1965, sintetizada no tema: Para conhecer a Deus é preciso conhecer o homem. Paulo VI viveu, antes e depois de ser papa, olhando constantemente para Cristo, do qual sentia e proclamava a necessidade para todos os homens. Tinha-o mostrado com a sua primeira Carta Pastoral, enquanto Arcebispo de Milão, intitulada com a expressão de Santo Ambrósio: Omnia nobis est Christus.
Numa reflexão de 5 de agosto de 1963, mês e meio após a sua eleição para a Cátedra de Pedro, escrevia: «Devo regressar ao princípio: a relação com Cristo… que deve ser fonte de sinceríssima humildade: “afasta-te de mim, que sou um homem pecador…”; tanto na disponibilidade: “farei de vós pescadores…”; como na simbiose da vontade e da graça: “para mim a vida é Cristo…”». O amor a Cristo é o amor à sua Igreja. No Pensamento sobre a morte podia, com razão, escrever: «Peço ao Senhor que me dê a graça de fazer da minha próxima morte um dom de amor à Igreja. Poderei dizer que sempre a amei e que por ela, e por mais nada, me parece que vivi».

Fascinado pela figura e atividade apostólica de São Paulo, quando o Espírito Santo o indicou como sucessor de São Pedro, não poupou as suas energias ao serviço do Evangelho de Cristo, da Igreja e da humanidade, vista à luz do plano divino de salvação. Defensor da vida humana, da paz e do verdadeiro progresso da humanidade, como mostram os seus ensinamentos, quis que a Igreja, inspirando-se no Concílio e pondo em prática os seus princípios normativos, redescobrisse cada vez mais a sua identidade, superando as divisões do passado e muito atenta aos novos tempos: Igreja de Cristo, que põe a Deus no primeiro lugar, o anúncio do Evangelho, mesmo quando se prodigaliza pelos irmãos, para construir a «civilização do amor» inaugurada pelo Espírito no Pentecostes.
Nas Notas para o meu testamento, Paulo VI tinha escrito: «Nenhum monumento para mim». Ainda que lhe tenha sido erigido um monumento na Catedral de Milão, em outubro de 1989, o verdadeiro monumento foi o próprio Paulo VI que o construiu com o seu testemunho, com as obras, com as viagens apostólicas, com o ecumenismo, com o trabalho para a Nova Vulgata, com a renovação litúrgica e com os seus múltiplos ensinamentos e exemplos, mostrando assim o rosto de Cristo, a missão da Igreja, a vocação do homem moderno e conciliando o pensamento cristão com as exigências da hora difícil em que teve de guiar, sofrendo muito, a Igreja.

Robert Card. Sarah
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos


Decreto e anexo »

2019-02-06 00:00:00