Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

acto penitencial

 

Dentre os diversos momentos penitenciais da liturgia cristã, chama-se «acto penitencial» a uma breve oração que se diz no rito de entrada da Missa: depois da saudação e da primeira monição, «o sacerdote convida ao acto penitencial, o qual, após uma breve pausa de silêncio, é feito por toda a comunidade com uma fórmula de confissão geral e termina com a absolvição do sacerdote» (IGMR 51).
Apesar de Paulo VI, na sua constituição apostólica Missale Romanum, que precede o Missal, afirmar que, entre as coisas que se restabeleceram «de acordo com a primitiva norma dos Santos Padres», está «o rito penitencial ou de reconciliação com Deus e com os irmãos, no início da missa, rito ao qual, como era conveniente, foi restituída a sua importância», há que dizer que em sentido próprio este acto penitencial é uma novidade da presente reforma. Havia elementos penitenciais ao longo da missa, no Missal de S. Pio V, um diálogo entre o sacerdote e os ministros, com a recitação do Salmo 42 («Iudica me Deus») e o Confiteor, mas não houve nunca oficialmente, como agora, uma oração penitencial de toda a comunidade no começo da celebração. O que há que recordar é que, com o Movimento Litúrgico, a partir dos anos quarenta do séc. XX , as «orações ao pé do altar», do sacerdote e do acólito, distenderam-se para o sacerdote e toda a comunidade.
Embora seja uma novidade, este acto penitencial é um elemento inte¬ressante e pode resultar pedagógico. A -comunidade, não antes de comungar (como se fazia antes, com outro Confiteor) ou depois das leituras (como também teria muito bom sentido), mas já antes de escutar a primeira leitura, pede a Deus que a purifique, que lhe dê força, e invoca Cristo, seu Senhor, pedindo-lhe a sua ajuda. Também para escutar, com proveito, a Palavra de Deus – a «primeira mesa» para a qual o Senhor nos convida – necessitamos de um coração purificado. Começamos a celebração com atitude de humildade, de pobreza, conscientes da nossa debilidade e, ao mesmo tempo, com confiança em Deus.
Há três modelos de acto penitencial no nosso Missal. O primeiro é a recitação comunitária do «Confiteor» (Eu confesso). O segundo é um breve diálogo: «Senhor, tende misericórdia de nós, porque pecámos contra vós…» O terceiro é uma série de aclamações a Cristo, o Senhor, com a resposta «Senhor, tende piedade de nós», ou seja, incorporando o «Kyrie» ao acto penitencial.
A dinâmica deste momento é como se segue:
• o presidente faz um convite à atitude de humildade e confiança;
• segue-se um momento de silêncio geral;
• então, realiza-se a oração, numa das três formas acima descritas;
• e tudo termina com o que se chama «oração de conclusão», que é uma «absolvição» em forma de petição.
Nas últimas edições do Missal, oferecem-se sete formulários de convite, mais de vinte formulários completos para as três aclamações cristológicas, segundo os diversos tempos do ano. A conclusão é sempre a mesma: «Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós…» O tom é mais de reconhecimento da grandeza, da santidade e da bondade de Deus, ou de Cristo, que da nossa miséria. As aclamações começam quase sempre com a expressão: «Vós que…», descrevendo ou confessando a nossa situação de pecado.
Sendo importante, o acto peni-¬tencial não é absolutamente necessário na estrutura da Missa. Pode-se, segun-do os livros litúrgicos, suprimir quan¬do no rito de entrada há outros ele¬mentos equivalentes: uma procissão especial (Do¬mingo de Ramos, exéquias, entrada do Bispo…), os Sal-mos de Laudes ou Vésperas, a as¬per¬são dominical, etc. Noutras ocasiões, como em Quarta-Feira de Cinzas, traslada-se para depois das leituras, convertido no gesto simbólico da impo¬sição das cinzas, respondendo assim ao convite das leituras à conversão quaresmal.