Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

bendizer, bênção

 

Vem de bene-dicere (em grego, eu-loguéo) e significa: falar bem de, desejar algo bom a alguém, louvar, abençoar.
Quem primeiro bendiz é Deus, sen¬do a sua bênção sempre eficaz, e, por isso, lhe é suplicada: «O Senhor lembra--se de nós e nos abençoa. Abençoa a casa de Israel, abençoa a casa de Aarão. Abençoa os que temem ao Senhor, abençoa pequenos e grandes» (Sl 113B [115],12-13). Respondendo a esta iniciativa, o homem, por sua vez, bendiz a Deus. Israel aparece como um povo que faz consistir a sua oração, antes de mais, em bendizer a Deus. Temos no AT abundantes exemplos de bênçãos (em hebraico «berakah, berakoth»), umas vezes pessoais e espontâneas, outras vezes, solenes e cultuais, como as de David em 1Cr 16 e 29, ou de Salomão em 1Rs 8, ou de Esdras em Ne 8-9. Muitos salmos são de bênção: «Ben¬diz, ó minha alma, o Senhor» (Sl 102[103}), como também o cântico cósmico de Daniel (Dn 3,51-90), no qual se vai repetindo o estribilho: «Bendizei ao Senhor.»
No NT, Cristo aparece como a bênção personificada de Deus, o portador de toda a bênção, e o que motiva e torna eficaz a nossa bênção a Deus. Nele se juntam a bênção descendente e a ascendente: «Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo [bênção ascendente], que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo [bênção descendente]» (Ef 1,3): texto que o Catecismo utiliza para descrever a acção salvadora do Pai para a humanidade e a resposta desta a Deus (cf. CIC 1077-1083).
«A bênção exprime o movimento de fundo da oração cristã: ela é o encontro de Deus com o homem; nela se encontram e unem o dom de Deus e o acolhimento do homem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa,o coração do homem pode responder bendizendo Aquele que é a fonte de toda a bênção» (CIC 2626).
Na nossa liturgia, que é onde esta bênção é «plenamente revelada e comunicada» (CIC 1082), a bênção ascendente concretiza-se no louvor das Horas e na Eucaristia, sobretudo, na sua Prece central de bênção e de acção de graças. Esta Prece Eucarística, já desde as primeiras gerações, se ligou de algum modo à oração de bênção da ceia pascal dos judeus, agora com conteúdo cristão. À Eucaristia chama-se-lhe «cálice de bênção» (1Cor 10,16). Mas também há outras orações «consacratórias» ou de bênção: sobre a água, sobre o crisma e os óleos, nas ordenações, etc. Todas elas têm uma primeira parte de bênção e uma segunda de invocação ou epiclese.
A bênção descendente, da parte de Deus, tem a sua expressão na bênção final da Missa, às vezes simples, -outras mais solene, com três blocos
aos quais o povo responde com o seu «Ámen» e que são acompanhados com o gesto de imposição das mãos. Mas o sinal vulgar para abençoar é o sinal da Cruz, porque toda a bênção é participação na salvação pascal de Cristo. Na liturgia hispânica, a bênção do presidente não tem carácter de despedida, como na romana, mas de preparação imediata para a comunhão.
Há outras bênçãos na liturgia: a bênção com o Santíssimo, a bênção dos noivos, no Matrimónio; a do diácono, para proclamar o Evangelho; a dos abades e abadessas; a bênção das igrejas e dos altares que não se «dedicam»; a bênção da comunidade com que geralmente se concluem todas as celebrações, sejam sacramentais ou da Liturgia das Horas, etc.
Os textos para a bênção de pessoas, lugares e coisas, estão recolhidos no novo Cerimonial das Bênçãos (1986).