Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

vinho

 

Juntamente com o pão, é o sinal sacramental mais importante para os cristãos: o sacramento da doação que Jesus Cristo, o Senhor Ressuscitado, nos faz de si mesmo como alimento para o nosso caminho. Desde a primeira geração que se entendem estes dois alimentos como o gesto simbólico escolhido por Cristo: «Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de Cristo?» (1Cor 10,16).
Comer pão e beber vinho comportam, antes de mais, uma relação com a natureza cósmica, que nos alimenta («fruto da videira e do trabalho do ho¬mem»). Além disso, tem uma conotação de unidade e amizade. Mas, sobretudo, a partir das palavras e da promessa de Cristo, são o sacramento e o sinal eficaz da sua doação à comunidade: o Senhor Glorioso identifica-se com o pão e o vinho para se nos dar como alimento e bebida.
O vinho é a bebida festiva por excelência, e diz alegria e vitalidade. Humanamente, o vinho fala de amizade e comunhão com os outros, cria alegria, infunde inspiração. Por isso, no AT, era símbolo dos tempos messiânicos: «um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados» (Is 25,6), e as várias taças de vinho da ceia pascal judaica querem expressar a alegria festiva da sua ¬Alian¬ça com Deus. E, muito mais, em Jesus Cristo: em Caná, o vinho novo, reservado para o final, simboliza claramente os tempos messiânicos já inaugurados em Cristo.
Cristo, que se apresentou a si mes¬mo como a Videira verdadeira (cf. Jo 15), na Última Ceia, pronunciou palavras carinhosas que, em cada Eucaristia, repetimos sobre o cálice do vi¬nho: «tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu Sangue,… derramado por vós e por todos…». O vinho, apontando o Sangue de Cristo, põe-nos em comunhão com o sacrifício pascal de Cristo na Cruz, ao mesmo tempo que nos faz pregustar a alegria escatológica do Reino: «até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai» (Mt 26,29).
Cristo não escolheu qualquer bebi¬da, por exemplo, a água, que era e é a bebida mais comum, mas sim essa bebida forte, cheia de vitalidade, o vinho, «fruto da videira, natural e puro, quer dizer, sem qualquer mistura de substâncias estranhas» (IGMR 322), magnífico símbolo da vida e da alegria que Ele
nos quer comunicar, e do seu sacrifício na cruz.
O Missal recomenda comungar sob as duas espécies: «a comunhão adquire a sua forma mais plena, enquanto sinal, quando é feita sob as duas espécies» (IGMR 281). Assim se expressa que, no momento em que comungamos com Cristo, o fazemos participando da sua alegria escatológica e do seu sacrifício pascal.

--> Cálice. Comunhão. Espécies.