Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

língua

 

A língua em que uma comunidade cristã celebra a sua liturgia foi e continua a ser um factor importante para a sua vida de fé. Quando as primeiras gerações passaram do hebraico ou do aramaico para o grego, e, a partir do século IV, com o papa Dâmaso, ao latim, que no Ocidente foi a língua litúrgica até aos nossos dias – apesar de, durante séculos, já não coincidir com a do povo –, sempre houve problemas e tensões, porque, por um lado, pretende--se conservar as heranças recebidas – e a língua é uma das mais sagradas, para cada povo e cultura – e, por outro lado, é fundamental que a comunidade celebrante entenda o que Deus lhe diz e o que ela prórpria reza e canta.
O ideal é que todos os povos, línguas e nações, tal como no Pentecostes, se encontrem unidas, na hora de celebrar a salvação de Deus. São Paulo já no seu tempo reagia em favor da compreensão da língua cúltica em 1Cor 14,19. O que Trento não pôde conseguir no século XVI, em parte pela agressividade dos reformadores quanto a este tema, pô-lo em marcha progressivamente o Concílio Vaticano II, que, em princípio, afirmou a sobrevivência do latim e, ao mesmo tempo, admitiu a sua convivência, com uma gradual introdução das línguas vivas na liturgia, começando pelas leituras, monições, algumas orações e cânticos (cf. SC 36.54).
Em 1967, passou-se à introdução da Oração Eucarística, e, passados poucos anos, «se passou a autorizar a língua vulgar em todas as celebrações litúrgicas com a participação do povo, a fim de permitir uma compreensão mais plena do mistério celebrado» (IGMR 12), e isto tanto para a Eucaristia como para os outros sacramentos e a Liturgia das Horas. Isto foi em grande parte motivado pela tomada de consciência da própria personalidade das diversas culturas e povos.
O ingente trabalho da tradução dos novos livros litúrgicos, em mais de trezentas e cinquenta línguas oficiais, realizou-se com grande mérito e eficácia por parte das diversas Conferências Episcopais, convencidas do bem espiritual e evangelizador que esse empenho comportava.