Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Leccionário

 

Chama-se leccionário ao livro que contém um sistema organizado de leituras bíblicas para uso nas celebrações litúrgicas, embora também se aplique este nome à parte das leituras patrísticas do ofício de Leitura.
A princípio, a comunidade cristã lia directamente da Bíblia, com ampla liberdade de selecção, «enquanto o tempo o permite», como dizia São Justino, pelo ano 150. Mas depressa se viu a conveniência de uma selecção de leituras para os diversos tempos e festas. Segundo o modo de indicar as várias perícopas ou unidades de leitura bíblica, este livro foi-se chamando «capitulare», que assinavala as primeiras e as últimas palavras de cada passagem, ou, então, «comes» ou «liber comitis» – na liturgia hispânica «liber commicus» (de «comma», secção, inciso) –, em que constam as leituras íntegras. Segundo os conteúdos, mais tarde, diversificaram-se o Epistolário e o Evangeliário, quando se organizaram separadamente essas leituras.
As diversas famílias litúrgicas do Oriente e do Ocidente foram configurando, com critérios de selecção próprios, os seus leccionários. Foram quase sempre fiéis às três leituras: o profeta, o apóstolo e o Evangelho, para a Eucaristia. Alguns dos mais antigos e famosos são o Comes de Würzburg, o mais antigo no Ocidente, e o Leccionário arménio de Jerusalém, no Oriente.
Na reforma do Vaticano II, um dos elementos que mais riqueza trouxe à celebração foram os novos Leccionários. Antes, tínhamos um «missal plenário», com leituras e orações juntas. Agora, o Missal Romano consta de dois livros: o Missal, que é o livro do altar ou das orações, e o Leccionário, o Ordo Leccionum Missæ (=OLM). Este último está dividido em vários volumes: o leccionário dominical, em três ciclos; o Ferial, em dois; o Santoral; o ritual para os sacramentos; o das mis¬sas diversas e votivas; seguindo assim a orientação do Concílio de oferecer ao povo cristão uma selecção mais rica e variada da Palavra de Deus (cf. SC 51). A primeira edição latina do novo Leccionário apareceu em 1969. Em 1981, ao publicar-se a segunda, enri¬que¬ceu-se notoriamente a sua intro¬dução.
Há também um leccionário bíblico para o Ofício de Leitura da Liturgia das Horas, com a particularidade de que, para além da série de leituras que consta no livro oficial, se anunciava já desde o princípio, ainda que se tenha tardado muito a realizar oficialmente a ideia, um leccionário bienal que permite ler toda a Bíblia, integralmente, em dois anos, excepto o Evangelho, reservado para a Missa (cf. IGLH 140-158).
Para as Missas com crianças, o seu Directório (cf. DMC 43; EDREL 2802) sugere às conferências Episcopais que, se o entenderem conveniente, confeccionem um Leccionário 10 para estas missas. Para as quarenta e seis Missas votivas da Virgem Maria (1987) foram também feitos dois livros: o Missal com as orações e o Leccio¬nário.
O leccionário usado na celebração litúrgica deve ser digno, decoroso, que manifeste, na sua própria aparência, o respeito que à comunidade cristã lhe merece o seu conteúdo: a Palavra que Deus nos dirige (cf. OLM 35-37; EDREL 837-839). Por isso, é rodeado de sinais de apreço: o que proclama o Evangelho beija o livro, que antes se pode levar em procissão, no início da Missa, e incensar, nos dias festivos, etc.
O Leccionário proclamado, domingo após domingo, ou dia após dia, à comunidade cristã, é o melhor catecismo aberto, que continuamente alimenta e ajuda a aprofundar a fé (cf. OLM 61; EDREL 861).