Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

lavabo, lavar, lava-pés

 

A lavagem com água, além do seu uso prático, tem também um claro simbolismo de purificação espiritual, empregado em todas as religiões e culturas.
Aqui, recordamos em concreto o gesto simbólico do lavabo, pelo qual o sacerdote lava as mãos, antes de proceder à Oração Eucarística. O seu nome vem-lhe da primeira palavra latina do versículo do Salmo 25 que o sacerdote, antigamente, recitava: «lavabo inter innocentes manus meas» («lavarei as minhas mãos entre os inocentes»). Não é um gesto prático, necessário pelo facto de se ter as mãos sujas, mas, desde os primeiros testemunhos da sua introdução na Missa, aparece com um sentido simbólico. S. Cirilo de Jerusalém, no século IV, na sua catequese sobre a Eucaristia, fala deste gesto do lavar das mãos do bispo e dos presbíteros que o rodeiam, e diz: «de nenhuma maneira, por alguma sujidade corporal. Mas o lavarmo-nos é o símbolo de que convém que nos limpemos de todos os pecados e iniquidades. Porque as mãos são símbolo do agir, ao lavá-las manifestamente significamos a pureza e integridade das obras.»
O Missal explica porque manteve este gesto: «o sacerdote lava as mãos, ao lado do altar: com este rito se exprime o desejo de purificação interior» (IGMR 76). O sacerdote faz, portanto, um gesto extra de humildade, embora já tenha começado a celebração, juntamente com os fiéis, com um acto penitencial. Agora, ao encarnar de modo especial Cristo Sacerdote, na parte central da Eucaristia, pede a Deus uma pureza interior, e manifesta-o com este gesto simbólico, enquanto diz em segredo: «Lavai-me, Senhor, da minha iniquidade e purificai-me do meu pecado.»
Outro momento em que este gesto tem particular significado é no Lava-
-pés de Quinta-Feira Santa. É o gesto que Jesus fez na sua Ceia de despedida, dando assim aos seus discípulos uma lição modelar de serviço (cf. Jo 13). Ele já havia dito que tinha vindo, não para ser servido, mas para servir e dar a vida pelos outros. Antes de se dirigir para a cruz, onde se daria totalmente a Si mesmo, quis fazer este gesto simbólico, quase como um adiantamento simbólico da sua Paixão e morte.
O lava-pés foi celebrado durante alguns séculos, em algumas regiões da Igreja, como em Milão, sobretudo como sinal da purificação baptismal. Mas, mais geral e duradoira, até aos nossos dias, foi a interpretação, e precisamente em Quinta-Feira Santa, da lição de caridade por parte daquele que é pastor e animador da comunidade.

--> Ablução. Água