Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

altar

 

O altar é o centro do espaço celebrativo, seu princípio de unidade e ponto de referência mais imediato.
O seu primeiro sentido foi o sacrifício: a ara onde se sacrificavam as vítimas à divindade. Por isso, a etimologia do nome latino altare parece que vem de adolere, arere (arder: o lugar onde pelo fogo se queima a vítima do sacrifício). Também poderia provir de altus (alto), porque os altos (sobretudo as colinas e montes) sempre se consideraram lugar de encontro dos humanos com a divindade.
No AT, erigem-se altares para oferecer culto a Deus. Assim se lê, no livro do Génesis, de Noé (cf. 8,20), Abraão (cf. 12,7; 13,18), de Isaac (cf. 26,25), etc. É particularmente expressiva a cena de Ex 24, quando Moisés levanta um altar e sobre ele realiza o rito da aspersão com sangue de animais, selando a Aliança entre Deus e o seu povo. No Templo de Jerusalém, o altar era o espaço principal de todo o seu culto: o altar dos perfumes e o altar dos holocaustos. Os sacerdotes eram chamados «ministros do altar».
No NT, continua a referência, tanto quanto se designa o altar normal (cf. Mt 5,23: quando fores oferecer ao altar…) como quando já se refere ao próprio Cristo. Nós, os cristãos, temos um culto, um sacrifício e um altar próprios, centrados em Jesus Cristo (cf. Heb 13,10): Ele é para nós ao mesmo tempo sacerdote, vítima e altar. No Apocalipse fala-se também do altar que está entre o trono de Deus, onde se oferecem os perfumes e sacrifícios dos justos (cf. Ap 6,9; 8,3).
Para os cristãos, o altar tem, antes de mais, uma conotação sacrificial: «o altar da Nova Aliança é a Cruz do Senhor (cf. Heb 13,10), donde dimanam os sacramentos do Mistério Pascal. Sobre o altar, que é o centro da Igreja, é tornado presente o sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais» (CIC 1182). Mas predomina o sentido de refeição eucarística: «o altar […] é também a mesa do Senhor, na qual o povo de Deus é chamado a participar quando é convocado para a Missa » (IGMR 296). Junto ao carácter de «ara», acentua-se o de «mesa» (cf. 1Cor 10,21-22, onde se contrapõe a «mesa do Senhor» e a «mesa dos demónios»), porque o sacrifício único da Cruz (do «altar da Cruz») torna-se agora sacramentalmen¬te presente, no seu memorial comunitário, em forma de refeição eucarística. Por isso, especifica-se: «o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística» (IGMR 73). «O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia, representa os dois aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto, tanto mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembleia de seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima oferecida para a nossa reconciliação e como alimento celeste que se nos dá» (CIC 1383). Por isso, o altar é único, como símbolo de Cristo, nosso único sacerdote e vítima.
Ao princípio, esta mesa era de madeira: um trípode para os dons eucarísticos. Mas mais tarde, preferiu-se que fosse de pedra. Nesta opção parece ressaltar a linguagem simbólica de Cristo, como rocha viva (cf. 1Cor 10,4) ou como pedra angular (cf. as citações do Salmo 118[117],22, e, no NT, por exemplo, 1Pe 2,4.7s). Agora, recomenda-se que seja de pedra, mas admite-se outra matéria digna e sólida (cf. IGMR 301).
A partir do século IV, foi-se relacionando o altar eucarístico com o sepulcro dos mártires, ou, pelo menos com as suas relíquias. Agora, estas relíquias, não obrigatórias, devem colocar-se em todo o caso sob o altar, não sobre ele ou dentro dele (cf. CB 866c).
Nos primeiros séculos, o altar era independente. Na Idade Média, encostou-se à parede ou ábside do fundo, e agora de novo se pede que esteja separado da parede, para poder celebrar de frente para a comunidade e rodear processionalmente o altar (cf. IGMR 299).
O altar chama-se «fixo», quando está unido ao pavimento, sem dele se poder mover, e «móvel», em caso contrário. Prefere-se que o altar principal seja fixo e consagrado (cf. IGMR 298), enquanto um altar móvel pode ser só «benzido» (cf. IGMR 300). Os altares «dedicam-se», segundo o Ritual da Dedicação da Igreja e do Altar, em cujos textos se exprime o simbolismo e a finalidade celebrativa do altar. O altar só se dedica a Deus e não aos Santos, como a Eucaristia só se oferece a Deus (cf. CB 921).

--> Dedicação. Relíquias. Sacrifício.