Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

domingo

 

Esta palavra vem do latim, dominicus, dominica dies (dia senhorial, do Senhor). É o nome que, pela primeira vez, o Apocalipse (1,10) dá
ao «dia primeiro, depois do sábado») – em grego, «kyriake hemera» –, ou seja, o dia em que ressuscitou Jesus Cristo.
Nos primeiros séculos, teve ainda outros nomes: «dia do Sol», seguindo a terminologia romana; «oitavo dia» (ogdóada), assinalando que, superada a semana de sete dias, de novo é o primeiro dia, mas projectado para a frente, na marcha escatológica da história.
Na primeira comunidade já se atesta o valor que, no mistério da nossa fé cristã, tem este dia. O episódio de Emaús (cf. Lc 24,13-35), ou as duas aparições sucessivas de Jesus aos seus, com intervalo de oito dias, a segunda vez com Tomé (cf. Jo 20,16-29), ou o que Lucas narra da reunião de Tróade (cf. Act 20,7), sempre no primeiro dia depois de sábado, ressaltam os aspectos que logo se tornaram característicos deste dia: a presença do Ressuscitado, a reunião comunitária, a escuta da Palavra, a celebração da Eucaristia, a alegria, a paz, o dom do Espírito, a missão…
Ao longo dos vinte séculos da sua história, a Igreja nunca deixou de celebrar este dia como dia pascal semanal. A partir do século IV, com a paz de Constantino, foi-se-lhe acrescentando, além disso, o aspecto do descanso laboral, que até então não existia. Ultimamente, deu-se um passo significativo de adaptação às mudanças sócio-culturais: o domingo, incluída a sua Eucaristia, começa a celebrar-se já na tarde de sábado.
Há dois textos do Magistério – Cons¬tituição sobre a Sagrada Li¬tur¬gia (SC) e o Código de Direito Canónico (CDC) – que manifestam o sentido, particularmente significativo, que a Igreja atribui ao domingo.
A Constituição conciliar, no seu n.106: «Segundo a tradição apostólica, que teve origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o Mistério Pascal de oito em oito dias, no dia que justamente se chama Dia do Senhor ou Domingo. Neste dia, os fiéis devem reunir-se a fim de que, escutando a Palavra de Deus e participando na Eucaristia, recordem a Paixão, a Ressurreição e a glória do Senhor Jesus e dêem graças a Deus que nos gerou de novo – através da ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos – para uma esperança viva. Por esta razão, o Domingo é o principal dia de festa a propor e a introduzir na piedade dos fiéis, de tal modo que seja também um dia de alegria e de repouso do trabalho.»
E o novo Código de Direito Canónico, de 1983 (c. 1247): «No domingo […] os fiéis têm obrigação de participar na Missa; abstenham-se ainda daqueles trabalhos e negócios que impeçam o culto a prestar a Deus, a alegria própria do dia do Senhor, ou o devido repouso do espírito e do corpo.»
O domingo é um dos valores fundamentais da comunidade cristã. É como um «sacramento» que concentra em si mesmo, cada oito dias, as melhores riquezas da sua fé e da sua vida: a centralidade de Cristo e da sua Páscoa, a consciência da Igreja como comunidade, a escuta da Palavra e a celebração da Eucaristia, a alegria pascal que impregna toda a jornada e motiva o descanso laboral, a valorização da natureza (o domingo é também o «primeiro dia» da criação), o convite à caridade fraterna e a oração mais explícita. «A instituição do Dia do Senhor contribui para que todos gozem do tempo de descanso e lazer suficiente, que lhes permita cultivar a vida familiar, cultural, social e religiosa» (CIC 2184), e que se dediquem a obras de caridade fraterna (cf. CIC 2186), renovando cada semana o compromisso de testemunho cristão, como uma voz profética no meio do mundo.