Dicionário elementar de liturgia

José Aldazábal

 

Agnus Dei

 

«Agnus Dei» significa «Cordeiro de Deus». O símbolo do cordeiro é muito bíblico: aplicado ao Servo de Javé (cf. Is 53,7) ou directamente a Cristo, na boca do Baptista (cf. Jo 1,29.36), ou quando Paulo afirma que «Cristo, nossa Páscoa, foi imola¬do» (1Cor 5,7) e, sobretudo, no Apocalipse, que não só apresenta Cristo como o Cordeiro imolado, mas descreve o des¬tino final da história como as núpcias do Cordeiro com a Igreja (cf. Ap 19).
O nome «Agnus Dei» ou «Cordeiro de Deus» aplica-se ao cântico litânico que, antes da comunhão, se canta ou recita acompanhando o gesto simbólico da Fracção do Pão: «a súplica Cordeiro de Deus é cantada habitualmente pelo coro ou por um cantor, com a resposta de todo o povo… Esta invocação acompanha a Fracção do Pão, pelo que pode repetir-se o número de vezes que for preciso, enquanto durar o rito» (IGMR 83). Não é, pois, um cântico do presidente, que deve estar ocupado na fracção, mas dos cantores e do povo. De per si, o cântico é litânico, respondendo a comunidade às invocações cantadas ou recitadas pelo solista ou pelo coro. A partir do século X, conheciam-se «tropos» ou invocações variadas neste cântico, relacionados com o Cordeiro Redentor, Cristo, ou com a sua doação eucarística como Pão partido.
A invocação «Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo…» já está no canto do «Glória a Deus, nas alturas», mas aqui tem especial sentido du¬ran¬te a fracção do Pão. Segundo indica o *Liber Pontificalis (I, 376), foi o papa de origem oriental, Sérgio I, nos finais do século VII, quem introduziu esta invocação litânica na preparação próxima da comunhão. Noutras liturgias, chama-se confractorium ou cantus ad confractionem, sempre em relação à Fracção do Pão.
A resposta do povo às invocações foi, ao princípio, uniforme: «miserere nobis», «tende piedade de nós». Nos séculos X-XI foi-se mudando esta última, talvez pela proximidade do gesto da Paz: «dona nobis pacem», «dai-nos a paz». Inclusive, nas missas de de¬fun¬tos, pôs-se como uma resposta «Dona eis requiem», «dai-lhes o descanso». O gesto simbólico da fracção tem um claro sentido de fraternidade e de unidade (cf. IGMR 72.80.321). Mas, ao mesmo tempo, a comunidade acompanha e completa o sentido do gesto, cantando a Cristo, o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo, como também se voltará a repetir no convite que o sacerdote faz para a comunhão: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.» Tem muito bom sentido que se cante este tema, no momento em que o Pão, que é Cristo, é partido para que seja partilhado por todos.

-->Fracção do Pão.